247 - Segundo informações vazadas por fontes
próximas a procuradores e delegados que conduzem a Operação Lava Jato,
em Curitiba, o falecido deputado federal Sérgio Guerra (PE),
ex-presidente do PSDB, foi o beneficiário de US$ 10 milhões pagos pela
empreiteira Queiróz Galvão. O doleiro Alberto Youssef, delator do
suposto esquema de corrupção na Petrobrás, contou que Sérgio Guerra e
"um tucano de Londrina" enterraram a CPI do Senado sobre a estatal em
troca da propina.
O outro tucano que participava daquela CPI é o senador Alvaro Dias,
cujo berço político é a cidade de Londrina. Ambos deixaram a CPI de
forma surpreendente, em protesto contra o que seria um "jogo de cartas
marcadas". Sem a presença deles, a CPI não foi adiante.
O espólio de Sérgio Guerra deve entrar no alvo de investigação do a
atuação do Ministério Público e da Polícia Federal. A confirmação do
recebimento de propina já leva a direção da Petrobras a estudar um
pedido de bloqueio de bens como forma de ser ressarcida.
Um dos mais ricos haras do país, o haras Pedra Verde, em Limoeiro
(PE), é um dos bens deixados pelo tucano, com mais de 200 cavalos de
raça, inclusive campeões nacionais da racha Manga-Larga Marchador.
Veterinários, geneticistas e 40 outros funcionários trabalham no Haras
Pedra Verde. Para os investigadores da Lava Jato, o Pedra Verde também
seria uma sofisticada lavanderia de comissões, inclusive por meio de
vultosas transações de exportação e importação de cavalos.
Palco de refinadas apresentações de produtos premiados e de leilões
milionários, o Haras Pedra Verde valeria perto de R$ 200 milhões
(cavalos, laboratório, instalações e fazenda), mas foi omitido da
declaração de Imposto de Renda de Sérgio Guerra ao eleger-se senador, em
2002, atribuindo à Pedra Verde um valor irrisório de R$ 22 mil, além de
declará-la como "terra nua", ou seja, sem qualquer tipo de benfeitorias
ou construções.
A coleção de arte contemporânea do falecido presidente do PSDB também
chamou atenção do MPF e da PF. Alí estão obras de Cícero Dias, Cândido
Portinari, Vicente do Rêgo Monteiro, Di Cavalcanti, Gilvan Samico,
Carybé, Manabu Mabe, Djanira e Tarsila do Amaral, em valores que
chegariam à casa dos R$ 20 milhões e que teriam sido, na maioria das
vezes, compradas em galerias do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
Haveria pelo menos um caso, em que uma tela de Ismael Nery, orçada em
quase R$ 2 milhões, teria sido adquirida por uma empreiteira baiana para
adornar as paredes do apartamento de cobertura da família Guerra na
orla do Recife.
Há, também, dezenas de imóveis, uma frota de automóveis de luxo,
entre eles vários modelos BMW, além de jóias, aplicações financeiras em
bancos e prováveis contas já sendo rastreadas em paraísos fiscais, como
Liechtenstein e Suíça. Com a morte de Guerra, seus herdeiros deverão
enfrentar a ação indenizatória da União movida pelo Ministério Público
Federal.
Falecido em 6 de março deste ano, o ex-presidente do PSDB foi um dos
mais radicais opositores dos governos Lula e Dilma. Nos anos 1980,
Guerra, porém, foi apontado como um dos integrantes da quadrilha que
desviava recursos públicos e beneficiava empreiteiras, na Comissão do
Orçamento do Congresso Nacional. Relator do Orçamento da União também no
final dos anos 80, Sérgio Guerra chegou a viajar num jato Dassault
Falcon da Construtora Camargo Correia para Londres, onde teria se
hospedado em uma luxuosa propriedade do falecido empreiteiro Sebastião
Camargo. Ele estava acompanhado de toda família e por duas semanas teria
frequentado restaurantes e lojas de grifes de luxo na capital inglesa.
Guerra foi o único parlamentar a escapar da guilhotina que vitimou
parlamentares influentes como Genebaldo Correia, Manoel Moreira, Cid
Carvalho e Pinheiro Landim, além do líder do grupo, João Alves.
Influente e temido enquanto viveu, Sérgio Guerra teve seu nome
arrastado para o centro do escândalo da estatal e nenhum tucano, até o
momento, saiu com ênfase na defesa dele. Um deputado federal
pernambucano, ouvido pelo Brasil247, foi taxativo: "Não defenderam e nem
irão colocar as mãos no fogo por ele. Quem conhecia bem o Sérgio não se
surpreende nem um pouquinho com esse envolvimento".
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