sábado, 4 de agosto de 2018

Marta desce do palco da pior forma: sem votos


Josias de Souza

Marta Suplicy anunciou três decisões nesta sexta-feira: 1) Não será candidata a vice na chapa presidencial de Henrique ‘1%’ Meirelles; 2) Não disputará a reeleição para o Senado; 3) Desfiliou-se do MDB. Marta divulgou uma “carta aos paulistas”. Nela, criticou os partidos políticos, condenou o toma lá dá cá que rege a ocupação predatória de cargos no Executivo e atacou o conservadorismo do Congresso na área dos costumes.
Quem lê a carta de Marta, fica com a impressão de que a autora desejou fazer uma pose de navio que abandona os ratos. Mas a verdade é que Marta não abandonou, foi abandonada… pelo eleitor.
Marta exerceu na plenitude a prerrogativa de escolher o seu próprio caminho rumo ao ocaso. Numa entrevista concedida em janeiro de 2015, a então senadora do PT declarou: “Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?”.
Dez anos depois do estouro do mensalão, com o petrolão a pino, Marta se dava conta de que aquele PT que ajudara a criar convertera-se numa máquina arrecadadora de dinheiro sujo. Pois bem. O que fez Marta?
Oito meses depois da caída em si, a senadora filiou-se ao (P)MDB —um partido que deseja “livrar o Brasil da corrupção e da mentira”, discursou Marta na cerimônia organizada para recepcioná-la. Prestigiaram o ato, entre outras figuras tóxicas, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Michel Temer.
Cunha, Renan e Temer já não eram bons exemplos. Mas eram ótimos avisos. “A gente quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras, livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais”, Marta insistiu. “Afinal, eu estou no PMDB do doutor Ulysses…”
Marta fingia não notar. Mas o PMDB de Ulysses Guimarães morrera afogado nas águas frias de Angra dos Reis em outubro de 1992. E seus restos mortais jamais foram localizados.
Considerando-se todas as circunstâncias, não é tão difícil de entender por que Marta Suplicy optou por descer do palco congressual. A carta da senadora, com seus oito parágrafos, é apenas um caminho muito longo para dizer algo que poderia ser resumido em duas palavras: ''Faltam-me votos''. E não se pode culpar o eleitor por sinalizar nas pesquisas a intenção de aposentar Marta do Senado.

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