terça-feira, 22 de maio de 2018

Brasil erra ao fazer jogo dos EUA com Venezuela


Itamaraty deveria buscar papel de mediador da crise
Blog do Kennedy

O Brasil erra ao fazer o jogo político dos Estados Unidos em relação à Venezuela por ocasião da reeleição ontem de Nicolas Maduro para novo mandato presidencial de seis anos _pleito cuja lisura é contestada pela maior parte da comunidade internacional.
O papel de mediador deveria ser a prioridade do Brasil. Maduro faz um governo incompetente do ponto de vista econômico e seguiu caminho político ditatorial. Mas a oposição venezuelana não é flor que se cheire. Foi golpista no passado e não fez política para os mais pobres. O chavismo é resultado do descaso das elites venezuelanas com o seu povo.
Ao decretar sanções econômicas contra Caracas, os EUA estão fazendo o jogo deles. É um movimento que se insere na estratégia de Donald Trump, que deseja voltar a ter um governo fantoche em Caracas composto por uma elite que vive e educa seus filhos em Miami.
O Brasil deveria buscar outro caminho. Como líder regional, deveria tentar promover um diálogo entre governo e oposição. Ao bater no governo, perde interlocução e vai a reboque dos Estados Unidos.
Isso é uma burrice da nossa política externa. A paz e o desenvolvimento da Venezuela, nosso vizinho, com o qual temos fronteiras, são do interesse geopolítico e econômico do Brasil. O Itamaraty deveria construir pontes com a Venezuela e não queimá-las, mas essa foi a decisão da política externa da administração Temer. Talvez o próximo presidente brasileiro aborde a questão venezuelana com mais racionalidade e habilidade política e menos ideologia do que fizeram o PT e fazem agora PSDB e MDB.
Maduro governa sem realismo econômico. Já vimos esse filme aqui com a Dilma Rousseff. É um equívoco a defesa que o PT e setores da esquerda fazem da Venezuela e do crescimento do autoritarismo no país vizinho.
Mas é preciso entender que o chavismo ainda tem força porque foi o primeiro governo a olhar para os mais pobres. O erro de Chávez e Maduro, entretanto, foi matar a galinha dos ovos de ouro.
Houve depreciação da infraestrutura da indústria do petróleo. Não teve reinvestimento na PDVSA (Petróleos de Venezuela) para prospecção, por exemplo. Lá, a Petroquímica engatinha. Chávez e Maduro continuaram deixando a Venezuela ser basicamente exportadora de óleo cru.
O país vizinho sofre com a doença holandesa, que é usar os recursos do petróleo sem se industrializar. Embora tenha olhado para os excluídos, o chavismo não completou o ciclo de desenvolvimento. Não industrializou nem diversificou a sua economia. Não rompeu o ciclo histórico de subdesenvolvimento. As maiores reservas de petróleo do mundo estão lá. São maiores do que as da Árabia Saudita.
Maduro se mantém no poder porque tem o apoio do setor mais forte das Forças Armadas. Há uma coesão dessa ala com o chavismo. Resta saber até quando.

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