Furioso presidente Temer alega perseguição política
Bernardo Mello Franco – O Globo
O presidente Michel Temer fez um pronunciamento enfezado para rebater a suspeita de que usou imóveis em nome da família para lavar dinheiro de propina.
Nesta sexta, a “Folha de S.Paulo” informou que a Polícia Federal está investigando o caso. As transações envolvem o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima, presos na Operação Skala.
Uma testemunha já afirmou que a reforma da casa de Maristela Temer, filha do presidente, foi paga em dinheiro vivo pela mulher de Lima. O Planalto confirmou que uma casa em nome de Marcela Temer, a primeira-dama, foi comprada de Yunes.
Temer evitou citar o nome dos dois amigos no pronunciamento. Também não explicou de onde saiu o dinheiro investido nos imóveis. Preferiu reclamar, como sempre, do vazamento de informações à imprensa.
O presidente chegou a dizer que faria queixa ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. A carteirada não responde as perguntas básicas: como explicar os gastos em espécie e o envolvimento dos amigos com suas despesas particulares?
No mês passado, o Supremo quebrou os sigilos bancário e fiscal de Temer no inquérito dos portos. O presidente quis mostrar segurança e informou, em nota oficial, que a imprensa teria “total acesso” aos dados. Depois pensou melhor e deixou a promessa para lá.
Do ponto de vista estratégico, o pronunciamento desta sexta parece ter sido outro tiro no pé. Ao fazer o discurso invocado, o presidente só deu mais visibilidade às suspeitas que envolvem os imóveis da família.
Temer ainda cometeu um ato falho no discurso. “Eu não posso sair daqui da Presidência, não sei quando, para carregar essa pecha irresponsável”, esbravejou. Se não sabe quando, é porque deve desconfiar que o escândalo tem potencial para encurtar o seu mandato.
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