Por Helena Chagas no Blog Os Divergentes
“O Planalto nunca esteve perto de aprovar essa reforma, apesar do discurso para os ouvidos do mercado”
Nunca faltaram “apenas” trinta, ou quarenta, votos para aprovar a reforma da Previdência. Esse número sempre foi muito maior, e a narrativa do “estamos quase lá” era uma estratégia para ganhar tempo, uma conversa para boi dormir. Qualquer um com um mínimo de experiência parlamentar sabe que o Planalto nunca esteve perto de aprovar essa reforma, apesar do discurso para os ouvidos do mercado.
O governo foi empurrando o assunto ao longo do ano passado até sua hora da verdade, que deve ser na semana que vem, escondendo o que todo mundo sabia: depois de livrar a cara de Michel Temer em duas denúncias no plenário da Câmara os deputados acham que estão quites e não devem mais nada a esse governo.
Agora, o maior problema das hostes governistas em relação a esse assunto é encontrar um culpado, de preferência o vizinho do lado. Em torno dessa versão a ser montada giram as divergências de hoje entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os articuladores planaltinos. Maia não quer levar essa responsabilidade para casa, e por isso não quer submeter o projeto à votação, expondo a falta de votos na Câmara. Melhor não votar, diante da constatação de que não há votos – o que leva à conclusão de que o governo não conseguiu reuni-los.
No Planalto, porém alguns acham que seria melhor deixar a bomba estourar no plenário, expondo os partidos e deputados da base inclusive Maia e seus aliados. O problema dessa estratégia – que até dia 20 deve ser descartada – é óbvio: ao submeter a PEC à votação, o governo corre o risco de expor seu verdadeiro tamanho no plenário da Casa, mostrando que é muito menor do que jamais se poderia supor com base nos números mandrakes que seus articuladores exibiram até agora.
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