Helena Chagas no Blog Os Divergentes
O ano político começa no tranco, com a abertura da temporada de caça partidária – que vai determinar o rumo das alianças eleitorais de outubro e o destino de votações importantes do Congresso. A da reforma da Previdência em 19 de fevereiro, por exemplo, tem tudo para fracassar, sob a lógica de que, em meio à janela das trocas de partido, um deputado candidato à reeleição passou a valer ouro – quase literalmente.
Deputados, senadores e demais detentores de mandato terão o mês de março para trocar livremente de partido sem incorrer na penalidade legal da perdas de mandato. E obviamente só vão tratar disso até lá. Se, em condições normais, porteiras abertas já encorajam o leilão de mandatos, e criam aquele clima de feirão no Congresso, há na atual temporada um agravante: ainda que de forma gradativa, a cláusula de barreira para sobrevivência dos partidos entra em vigor já neste 2018.
Isso quer dizer que os partidos terão que ter pelo menos 1,5% dos votos registrados para a Câmara dos Deputados, o que não chega a ser muito mas é o bastante para varrer do mapa algumas agremiações menores, tirando-lhes o fundo partidário e o tempo na TV. Nessas circunstâncias, às quais se soma ainda a campanha curta que favorece a eleição e reeleição de quem já tem mandato, os partidos não podem se dar ao luxo de perder deputados candidatos em potencial.
O que equivale a dizer que qualquer ameaça de punição em eventuais fechamentos de questão para obrigar o sujeito a votar na previdência terá a força de um tiro de canhão na água. Não por acaso, os demais partidos aliados ao Planalto não acompanharam ainda o PMDB e o PTB em seu fechamento de questão pró-reforma.
Tudo o que eles menos querem no mundo é ter que punir um deputado candidato com sua expulsão da legenda, pois sabem que ele correrá para os braços de outro partido, levando seu potencial de votação futura e, mais grave ainda, sua votação passada, que conta para a distribuição dos recursos do fundo e do tempo eleitoral na TV durante a campanha.
Ou seja, na atual situação, os partidos precisam muito mais dos deputados do que os deputados dos partidos, pois sempre haverá um chinelo velho a espera de um pé doente – e rebelde
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