quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Decoração de Natal ameaça árvores em Garanhuns

Priscilla Costa, da Folha de Pernambuco
 Muitas pessoas têm o costume de afixar objetos nas árvores, seja por meio de cordas, abraçadeiras ou materiais diversos perfurantes e cortantes
A decoração natalina de Garanhuns, no Agreste pernambucano, está sendo alvo de críticas. De acordo com os moradores, os festejos na cidade, que começam nesta sexta-feira (19), colocam em risco a vida de centenas de árvores com a instalação de luminárias espalhadas ao longo delas. Aproximadamente 207 árvores situadas nas principais avenidas e praças de Garanhuns receberam os enfeites de Natal. Alguns registros fotográficos foram enviados à Folha de Pernambuco. Nas imagens é possível ver que as partes laterais das luminárias estão afixadas por pregos de metal nos troncos e caules o que, aos olhos de especialistas, configura crime ambiental. "Nada contra o Natal Luz de Garanhuns, apenas a forma como está sendo feita a ornamentação com as nossas árvores sem consciência ambiental. Iluminação para o Natal é louvável sim, mas quem ama Garanhuns, tem que amar as árvores da cidade também", analisou um dos moradores, que preferiu ter a identidade preservada. Ele chamou a atenção para a situação das árvores que, desde as festividades do ano passado, ficam sobrecarregadas com as luminárias. Há árvores que chegam a receber entre 20 e 80 luminárias do tipo strobo. "Se considerarmos que uma luminária instalada recebe dois pregos de metal, isso totaliza uma média de quarenta a 172 pregos metálicos por árvore decorada. Se for refletido bem, é uma quantidade absurda de perfurações desde a última instalação da decoração de Natal de 2014", observou.
Procurado pela reportagem, o prefeito de Garanhuns, Izaías Régis, rebateu as acusações. "Em nenhum momento houve negligência por parte da gestão. Não haveria outra forma de colocar as luminárias, se não fosem com pregos. Porém, tivemos o cuidado de perfurar apenas a casca e nenhuma morreu por conta disso", assegurou o gestor.
Verde ameaçado
A prática da Prefeitura de Garanhuns, no entanto, não é rara. Muitas pessoas têm o costume de afixar objetos nas árvores, seja por meio de cordas, abraçadeiras ou materiais diversos perfurantes e cortantes, fazendo-as de verdadeiros "cabides". De acordo com a engenheira florestal Lúcia Chaves da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a prática é proibida e faz mal às plantas. No caso dos pregos, a oxidação dos metais pode favorecer o ataque de insetos ou "envenenar" a árvore. "O buraco que se forma ao bater um prego vira porta de entrada para microorganismos como fungos, bactérias e vírus. Dependendo da profundidade, perfura o tecido e a circulação, favorecendo ao apodrecimento da árvore", alertou ela, que é especialista em patologia florestal. Além disso, arames e cordas sintéticas enroladas podem "estrangular" o crescimento da árvore, podendo levar à morte da árvore.

Consequências
"Não é bater um prego hoje que haverá queda amanhã. Mas, com dois ou três anos, isso pode acontecer", avaliou o professor do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE, Williams de Souza. Ele também chamou a atenção para as consequências de pendurar objetos nas plantas, que podem exercer carga excessiva e, em alguns casos, levar à ruptura de galhos ou da própria árvore. No caso das luminárias, as luzes muito fortes podem aquecer o tronco, ressecando folhas e galhos. "O grande problema é que as pessoas não enxergam árvores como seres vivos. Não tem aquele cuidado em vê-las como patrimônio, por isso, fazem o que querem sem se darem conta das consequências futuras", observou Souza.

Tinta
Ver troncos de árvores pintadas de tinta branca também é algo recorrente. Sobre essa questão, o professor Williams de Souza alertou: "Há pessoas que pensam que a tinta repele insetos e prolonga a vida da árvore, mas o benefício é zero. Essas tintas são altamente tóxicas e, caso a árvore não tenha uma casca muito grossa, o líquido pode atingir o sistema vascular da planta", explicou o pesquisador.

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