segunda-feira, 29 de junho de 2015

'Enquanto houver Marietas, Faustões não passarão'

Do Blog da Cidadania - O último domingo foi um dia de efervescência política – como de costume, a partir de São Paulo. Em um improvável dia para tantas emoções, em geral reservado ao descanso ante a semana “útil” que recomeça, demonstrações públicas de civismo e de intolerância.
Por onde começar? Talvez pelo mais importante. O que seja, que nem tudo está perdido.
O título deste texto alude a episódio ocorrido na última edição do programa Domingão do Faustão. O assunto está “bombando” nas redes sociais por conta de uma cena rara, nos últimos tempos. Uma mulher de feições serenas, fala firme, porém suave, se contrapôs a um discurso absurdamente derrotista e deprimente, vertido por um importante comunicador de massas em uma concessão pública de rádio e tevê, transformada em palanque eleitoral de forma absolutamente ilegal e incompatível com a coisa pública.
Antes de prosseguir, um lembrete: a faixa do espectro radioelétrico por onde é transmitida a programação da Rede Globo é como que uma via pública, pertence a todos e não pode ser usada por grupos políticos ou seus representantes, ao menos não sem que grupos políticos de todos os matizes possam se manifestar em igualdade de condições.
Todos sabem que há décadas que as famílias que detêm concessões de rádio e televisão neste país usam essas concessões para difundirem suas opiniões político-ideológicas, mas, no último domingo, essa lógica sofreu um abalo.
Apesar da iniciativa lamentável do apresentador Fausto Silva de formular um discurso derrotista e partidarizado contra o grupo político que ocupa o poder, o que se torna lamentável por ele ter achado lícito fazer esse discurso, ocorreu uma surpresa. Ao contrário do que costuma acontecer, quando a discordância de posições tão polêmicas costuma ser reprimida pelas Redes Globo da vida, convidada do “programa do Faustão” enfrentou, com rara elegância, a estupidez que acabara de ser proferida por seu anfitrião.
O vídeo abaixo mostra como a atriz Marieta Severo, ex-mulher do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, respondeu a afirmação absurda de Faustão, de que o Brasil seria “o país da corrupção”, “da crise”, enfim, de toda sorte de desgraças por conta de uma situação econômica que não é boa, mas que está longe de ser tão ruim quanto as que viveu em passado não tão distante e que superou com grande sucesso, até há alguns meses.

O grande gol de Marieta foi dizer, com clareza, que viver uma crise econômica não é novidade. Para quem tem memória – e cérebro –, basta lembrar do que o Brasil viveu há pouco mais de uma década, quando políticos que hoje se apresentam como “salvação” para o país pilotaram crise que causou danos muito piores ao emprego, à renda e ao social como um todo, sem falar no estado de miséria em que deixaram a economia do país, ajoelhada aos pés do FMI e sem reservas internacionais.
E só para que não restem dúvidas de que Marieta sabe do que está falando, aí vão alguns dados sobre quanto o país melhorou nos últimos anos, apesar das dificuldades momentâneas
Produto Interno Bruto:
2002 – R$ 1,48 trilhões
2013 – R$ 4,84 trilhões
PIB per capita:
2002 – R$ 7,6 mil
2013 – R$ 24,1 mil
Dívida líquida do setor público:
2002 – 60% do PIB
2013 – 34% do PIB
Lucro do BNDES:
2002 – R$ 550 milhões
2013 – R$ 8,15 bilhões
Lucro do Banco do Brasil:
2002 – R$ 2 bilhões
2013 – R$ 15,8 bilhões
Lucro da Caixa Econômica Federal:
2002 – R$ 1,1 bilhões
2013 – R$ 6,7 bilhões
Produção de veículos:
2002 – 1,8 milhões
2013 – 3,7 milhões
Investimento Estrangeiro Direto:
2002 – 16,6 bilhões de dólares
2013 – 64 bilhões de dólares
Reservas Internacionais:
2002 – 37 bilhões de dólares
2013 – 375,8 bilhões de dólares
Índice Bovespa:
2002 – 11.268 pontos
2013 – 51.507 pontos
Empregos Gerados:
Governo FHC – 627 mil/ano
Governos Lula e Dilma – 1,79 milhões/ano
Taxa de Desemprego:
2002 – 12,2%
2013 – 5,4%
Valor de Mercado da Petrobras:
2002 – R$ 15,5 bilhões
2014 – R$ 104,9 bilhões
Lucro médio da Petrobras:
Governo FHC – R$ 4,2 bilhões/ano
Governos Lula e Dilma – R$ 25,6 bilhões/ano
Falências Requeridas em Média/ano:
Governo FHC – 25.587
Governos Lula e Dilma – 5.795
Salário Mínimo:
2002 – R$ 200 (1,42 cestas básicas)
2014 – R$ 724 (2,24 cestas básicas)
Dívida Externa em Relação às Reservas:
2002 – 557%
2014 – 81%
Posição entre as Economias do Mundo:
2002 – 13ª
2014 – 7ª
Passagens Aéreas Vendidas:
2002 – 33 milhões
2013 – 100 milhões
Exportações:
2002 – 60,3 bilhões de dólares
2013 – 242 bilhões de dólares
Desigualdade Social:
Governo FHC – Queda de 2,2%
Governo PT – Queda de 11,4%
Taxa de Pobreza:
2002 – 34%
2012 – 15%
Taxa de Extrema Pobreza:
2003 – 15%
2012 – 5,2%
Mortalidade Infantil:
2002 – 25,3 em 1000 nascidos vivos
2012 – 12,9 em 1000 nascidos vivos
Estudantes no Ensino Superior:
2003 – 583.800
2012 – 1.087.400
Risco Brasil (IPEA):
2002 – 1.446
2013 – 224
Operações da Polícia Federal:
Governo FHC – 48
Governo PT – 1.273 (15 mil presos)
FONTES:
47/48 – http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas
39/40 – http://www.washingtonpost.com
42 – OMS, Unicef, Banco Mundial e ONU
37 – índice de GINI: http://www.ipeadata.gov.br
45 – Ministério da Educação
13 – IBGE
26 – Banco Mundial
Notícias, Informações e Debates sobre o Desenvolvimento do Brasil: http://www.desenvolvimentistas.com.br
Como se vê, país avançou muito em pouco mais de uma década. Alguns números pioraram do fim do ano passado para cá, mas ainda são muito superiores ao passado e a piora é recente.
Desconhecer tudo isso, como fez Faustão, e difundir o derrotismo, o pessimismo a partir de opiniões tão pouco embasadas, baseadas em mera conjuntura – que, como demonstra o retrospecto acima, pode ser revertida  como foi a situação dramática do fim do governo Fernando Henrique Cardoso –, é triste.
Mas Marieta salvou o dia.
No mesmo domingo, porém, outros fatos políticos opuseram lucidez e estupidez.
O ex-ministro Guido Mantega voltou a ser agredido publicamente. Desta vez, com virulência ainda maior. As cenas impressionantes sugerem que a agressão poderia ter sido até física, se ocorresse em local que facilita a violência, como a rua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário