A Servidão Voluntária
Quem já teve o prazer de ler o
livro de Etienne de La Boétie “Discurso da Servidão Voluntária” ficou surpreso
como esse escritor mostra os fatores que ocasionam a servidão voluntária. E o que
faz as pessoas se sujeitarem a servir a alguém que sempre os oprime. O “Discurso
da Servidão Voluntária” é uma obra profundamente motivada pelo momento
histórico em que está inserida. Reflete, discute e se dirige à realidade
francesa da época em que foi escrita. La
Boétie viveu na França do século XVI num período do Absolutismo. Nesse regime,
o rei, encarnando o ideal nacional, possui os atributos da soberania. O rei na
verdade realizava o que bem lhe conviesse.
O rei, cuja soberania era um
legado divino, era responsável apenas perante Deus, e os demais seres comuns
eram todos servos desse senhor. Mas, como milhares podem obedecer apenas a um
homem sem questioná-lo? Como Hitler pode manipular o povo alemão? La Boétie diz
que há três tipos de servidão: a servidão obstinada, aquela que se perpetua,
sem que o dominado se dê conta de sua situação e se esforce para dela libertar-se.
O outro tipo de servidão é aquela em que o homem prefere servir a ser livre.
Educado na servidão e afastado do conhecimento, da sabedoria, o homem não
conhece outra realidade, senão aquela em que se encontra. Outra razão para
servidão é a questão do desejo de participação na tirania. A submissão, a
obediência pode funcionar como extensão do poder do tirano. Também eles, os
súditos, estão dentro do sistema. Os dominados servem com o intento de
participar da tirania ou através da aspiração de ser também um tirano.
Essa última análise de La Boétie
talvez seja a mais plausível para explicar como muitos prefeitos do interior
conseguem manter milhares de pessoas a seu serviço, sem serem questionados. Na
verdade não há nenhum inocente nessa história. Muitas pessoas servem a esse
sistema na esperança de que um dia possa ser também visto como importante para
o sistema o qual ele serve. É como se o escravo ficasse sempre na esperança de
ser chamado a comer na mesa do senhor.
Mas a liberdade tem um preço e
ela só será conquistada com muita luta. Nunca haverá uma chance de a Casa
Grande tratar bem a senzala, pois são mundos distintos que nunca irão se juntar.
Será sempre como água e óleo; poderão estar juntos mais jamais unidos.
Texto escrito pelo colaborador do blog: Professor José Fernando da Silva, Graduado em História pela UPE: Garanhuns-PE.
Texto escrito pelo colaborador do blog: Professor José Fernando da Silva, Graduado em História pela UPE: Garanhuns-PE.
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