FERNANDO BRITO Tijolaço
Depois de uma reunião com o presidente em exercício, o comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior, colocou um ponto final na história de que a Venezuela é a responsável pelo vazamento de petróleo que chegou à costa nordestina:
“O que se sabe pelos cientistas é que o petróleo é de origem venezuelana, não quer dizer que houve em algum momento, e não houve isso, envolvimento de qualquer setor responsável tanto no público quanto no privado na Venezuela”.
Fim do papo-furado que até agora vem sendo utilizado pelo Governo, o de disfarçar sua falta de resposta operacional com acusações “ideológicas”.
É obvio que o petróleo veio de uma embarcação e faria o mesmo – ou maior – estrago se fosse árabe, texano, mexicano ou colombiano. Maior, digo, porque se não fosse um petróleo pesado, mas leve, e emulsionado pelo tempo que ficou no mar, não estaria nesta consistência pastosa que permite que seja retirado em placas.
Mas o almirante também nos mostrou que não há, até agora, foco nas investigações sobre qual foi a nave que lançou aquela imundície ao mar. Diz ele que estão sendo investigados 30 navios que passaram “próximo à costa brasileira” e admitiu que há 970 outros que poderiam ser a origem do vazamento, fora os “dark ships”, navios sem identificação.
Portanto, mais de mil navios, o que é a mesma coisa que nenhum, em matéria da apuração de responsabilidades.
Tanto que o almirante disse que os responsáveis serão encontrados, nem que leve 200 anos: “se demorar 200 anos, vamos ficar 200 anos nisso até achar”.
Há fatos objetivos que não estão esclarecidos, como a origem dos barris da Shell encontrados nas praias e claramente identificados, com número de lote e data do envasamento. Até agora não se tem o nome do comprador e, menos ainda, a informação sobre se e para quem foram transferidos para eventual reutilização.
Também não há definição oficial sobre o perímetro da origem do óleo, claramente identificado nos estudos sobre correntes marítimas e cujas coordenadas não essenciais para a apuração do tráfego de navios nesta região, combinado com o tempo de permanência do óleo no mar, o que também pode ser determinado por testes de laboratório.
Temos gente e instalações absolutamente capazes de dar conta destas missões. Há softwares desenvolvidos aqui – podem ir ver lá na UFRJ, por exemplo – e modelos matemáticos da melhor qualidade para determinar trajetórias e velocidades marinhas.
Como teríamos condições de estabelecer uma vigilância costeira que antecipasse o recolhimento do óleo que está dando à praia. Mesmo que sua densidade faça ele flutuar a meia água, um pouco abaixo da superfície, perto da costa ele se torna mais visível e pode ser coletado com mais facilidade e menos danos, se as praias forem vigiadas.
Marinha, Exército e Aeronáutica têm, somadas, mais de 100 helicópteros leves , padrão Esquilo, e um quatro deles dariam conta de patrulhar toda a costa atingida detectando a aproximação de manchas.
Impedir que se grudem a afloramentos rochosos nas praias, adiram a manguezais ou que entrem pela foz dos rios e canais de lagoas é extremamente importante para mitigar os efeitos.
Tudo isso deveria ser obra de uma coordenação federal, com responsáveis claramente identificados e que, em cada trecho da costa, fosse capaz de ter comando, organizar pessoas e meios e de deslocar pessoal e equipamentos de retenção.
Mas no país que encheu de militares o governo civil, por incrível que pareça, falta comando e arrojo.
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