Lição básica do jornalismo é chamar as coisas pelo nome que as coisas têm.
Residência é casa ou apartamento; hospital não é nosocômio, morrer não é “passamento” nem falecer.
O Le Monde deste domingo, que já está nas bancas francesas , pratica um jornalismo que os jornais brasileiros não têm coragem de praticar.
“A extrema-direita chega ao poder”, manchete de “fora a fora”, ou de oito colunas, no tempo que os jornais as tinham como medida.
Não porque brasileiros considerem a expressão “ultrapassada”, antijornalística: a usariam se fosse Marine Le Pen quem estivesse assumindo a presidência da França.
Mas o vento que venta cá não pode ter o nome do que ameaçou ventar por lá.
O jornalismo, se é que conserva este nome, passou a ser por aqui a arte do não dizer, do esticar, puxar, endurecer ou amaciar, conforme o freguês.
Sim, é isso, em uma linha: a extrema direita chega ao poder no Brasil.
Talvez ainda de forma provisória, com limitações formais – e cada vez menos – do estado de direito, com um personagem tosco, caricato ante ao mundo.
Mas quem deixa de ver que outro, mais sofisticado, está se articulando, vindo de Curitiba?
A luta pelo poder não está no horizonte da esquerda, mas entre as personagens desta tragédia nacional.
Entre outras razões, porque o jornalismo brasileiro, faz tempo, deixou de tratar as coisas pelo nome que as coisas têm.
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