Josias de Souza
Jair Bolsonaro já não consegue colocar as orelhas fora de casa sem ouvir meia dúzia de perguntas sobre Cuba e o Mais Médicos. Aos poucos, vai tomando ojeriza por certas palavras. Nesta segunda-feira, referiu-se novamente à encrenca num par de notas no Twitter. Mas não citou nem o nome do país que lhe causa urticária ideológica nem a logomarca do programa que lhe rouba o sossego.
“O Brasil paraíso de criminosos e fonte de renda de ditaduras desumanas deverá dar lugar ao Brasil cujo brasileiro e as pessoas de bem serão nossa maior prioridade (sic)”, anotou Bolsonaro num post. “Para voltarmos a crescer como nação precisamos fazer valer nossa soberania e nossas leis. Devemos respeitar o mundo todo, mas também ser respeitados. Seremos um Brasil amigo, mas que tem seus valores e princípios básicos”, acrescentou o presidente eleito noutro post.
Bolsonaro ainda não notou. Mas caiu numa armadilha da ditadura de Havana. A embromação retórica que Bolsonaro é obrigado a entoar tornou-se cansativa e ofensiva. Cansa porque não sai do lugar. Ofende porque se um governante tivesse de aparecer para um brasileiro doente e privado do contato com um dos quase 8,4 mil jalecos vermelhos que voltarão para Cuba, não se atreveria a aparecer em outra forma que não fosse a de um outro médico. Não importa a nacionalidade, pode ser até marciano, desde que alivie a dor e evite a morte.
Sem isso, a única coisa que o lero-lero de Bolsonaro consegue provocar é um reforço da impressão de que sua cubanofobia se sobrepõe à saúde dos brasileiros mais humildes. Para alguém que está prestes a realizar uma nova cirurgia no renomado hospital Albert Einstein, a situação pode provocar uma doença politicamente letal: impopularidade.
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