quarta-feira, 9 de abril de 2014

Planos: esfolando doentes e retribuindo aos amigos


Carlos Brickmann

 Esfolando os doentes...
Não faz muito tempo, este colunista publicou no Observatório da Imprensa uma série de casos de mau atendimento a clientes por seus planos de saúde. O colunista Elio Gaspari, insistentemente e com grande brilho, vem mostrando como é que o sistema privado suga verbas da saúde pública. O jornalista Ricardo Kotscho conta o seu caso, recentíssimo: quebrou o braço num acidente, fez uma operação de seis horas, gastou R$ 36 mil e teve reembolso de R$ 1.575,00 (a propósito, é cliente antigo do seguro-saúde).
Qual a força que têm as empresas para atender tão mal e ficar sempre livres de problemas?
...e retribuindo aos amigos - Uma boa pista sobre a impunidade de quem atende mal aos doentes acaba de aparecer na Câmara: numa Medida Provisória que trata de tributação de empresas brasileiras no Exterior, nobres deputados enxertaram algo que não tem nada a ver com isso, com o objetivo de reduzir as multas que os maus planos de saúde eventualmente venham a sofrer. Se um plano de saúde cometer de duas a 50 infrações e for multado por elas, pagará apenas duas multas. Acima de mil multas, pagará vinte.
Traduzindo em reais: se uma operadora negar uma cirurgia legítima, pode ser multada em R$ 80 mil. Se for multada 50 vezes, a conta será de R$ 4 milhões. Será, não: seria. Pela Medida Provisória, cai para R$ 160 mil. Se houver mil multas, em vez de R$ 80 milhões a má operadora pagará R$ 1,6 milhão e fica por isso mesmo. Atender mal aos clientes vira um negócio ainda melhor.
A Medida Provisória foi aprovada na Câmara (sendo relator o deputado Eduardo Cunha, do PMDB fluminense) e vai agora ao Senado. A grita dos meios de comunicação, mais alguma pressão dos eleitores, talvez derrube o absurdo.
Mas ainda restará algo a resolver: de janeiro a agosto do ano passado, as operadoras de planos de saúde pagaram apenas 20,7% das multas que sofreram.

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