Liberdade com responsabilidade
A imprensa pode falar mal de todo mundo, inclusive com inverdades, mas ninguém pode falar mal da imprensa. Essa foi a conclusão a que se chegou no 6º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia
A imprensa pode falar mal de todo mundo, inclusive com inverdades
– o que se tornou uma prática vergonhosa em parte da mídia do país –
porque isso é próprio da democracia, mas ninguém pode falar mal da
imprensa, porque isso é prejudicial à democracia. Essa foi a conclusão a
que se chegou no 6º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, realizado
recentemente em Brasília, onde os principais palestrantes foram
justamente os integrantes dessa imprensa que, usando como biombo o
direito à liberdade de expressão, mente, distorce e omite na ânsia de
atingir o seu objetivo: destronar Dilma Rousseff do Palácio do Planalto
e, por via de consequência, enfraquecer o PT.
A Presidenta e o seu partido, segundo o jornal "O Globo", são os
culpados por tudo o que de ruim acontece neste país, desde o vandalismo
de manifestantes à violência nas ruas, o lançamento de um vaso sanitário
que matou um torcedor em Recife, até o linchamento de uma inocente em
Guarujá. Ninguém seria capaz de imaginar, em passado recente, que um
veículo de comunicação da importância e da tradição do jornalão carioca
chegasse a tamanho absurdo através de editorial. A liberdade de imprensa
certamente é fundamental para o fortalecimento da democracia, mas
liberdade com responsabilidade. Afinal, tudo tem limites.
No evento promovido em Brasília, a colunista Eliane Cantanhêde, da
"Folha", acusou o ex-presidente Lula de incitar "manifestações contra
nós", enquanto a colunista Denise Rothemburg, do "Correio Braziliense",
disse que "ninguém mais aguenta a acusação de que fazer uma matéria
crítica é golpe". Em primeiro lugar ninguém, está incitando alguém – e
nem precisa – contra a imprensa tendenciosa, porque ela própria, com seu
noticiário faccioso, está se desacreditando. Em segundo lugar, é
preciso não confundir crítica com mentiras e agressões, como vem
ocorrendo. A crítica é de fundamental importância para o regime
democrático, desde que séria e isenta.
O tratamento que esse setor da imprensa tem dado aos acontecimentos
envergonha os jornalistas sérios e responsáveis. Enquanto se classifica
como regalia e se noticia com estardalhaço, como se fora um fato
escandaloso, a visita de Maria Saragoça ao pai, José Dirceu, na prisão,
não se considera escândalo a atitude de um senador, aspirante a
Vice-presidente da República, que manda um blogueiro a PQP, aos berros.
Enquanto se noticia como escândalo a citação do nome do ex-ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, numa conversa entre o doleiro Youssef e o
deputado André Vargas, gravada pela Policia Federal, na linguagem da TV
Globo, por exemplo, o propinoduto e o cartel no metrô paulista, alvo de
uma CPI requerida pelos governistas, viram "obras do Estado de São
Paulo". A nova classificação de corrupção só pode ser entendida se a
Globo quis usar uma linguagem figurada, referindo-se àquela "obra" de
odor muito conhecido.
O que está acontecendo é que, na defesa dos seus interesses políticos
e econômicos, a chamada Grande Imprensa perdeu a ética, perdeu os
escrúpulos, perdeu o profissionalismo e perdeu o compromisso com o
leitor, tornando-se cínica. Para essa parte importante da mídia, os fins
justificam os meios. E abusando da preguiça mental de muita gente,
impõe suas idéias. Infelizmente, parte da população parece que perdeu a
capacidade de raciocínio – ou simplesmente se acomodou – habituando-se a
pensar pela cabeça dos Marinho, dos Mesquitas, dos Frias e dos Civita,
os quais, através da estrutura montada pelas suas agências de notícias,
levam seus pensamentos aos quatro cantos do país, onde são assimilados
pelos que preferem manter a massa cinzenta hibernando.
Desde o desaparecimento das tradicionais agências de notícias, entre
elas a Asapress, no início da década de 80 do século passado, os
jornalões aproveitaram a estrutura criada pelas sucursais e
correspondentes em todo o país para montar suas próprias agências e,
assim, surgiram a Agência Globo, Agência Folha e Agência Estado, cujas
notícias são publicadas do Acre ao Chuí, pelos jornais locais, com o
mesmo texto venenoso publicado em sua origem, contaminado por
distorções, tendências e paixões. Assim, com a conivência ingênua, burra
ou deliberada dos veículos de comunicação menores espalhados pelo
interior do país, eles formam uma opinião nacional contra ou a favor de
alguém ou alguma coisa. Graças a esse mecanismo é que a presidenta Dilma
Rousseff vem caindo nas pesquisas.
Até o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal
Federal, que tem sido beneficiário dessa imprensa passional, já defendeu
a necessidade de uma regulação, que não é censura, para conter esse
comportamento extremamente danoso ao próprio regime democrático.
Habituada a gritar contra qualquer tentativa de balizamento do seu
noticiário passional, classificando os projetos de censores e ameaças à
liberdade de expressão, a chamada Grande Imprensa não soltou um gemido
diante da declaração do presidente do STF, mas certamente vai promover
uma mobilização nacional e internacional caso alguém, que não seja o
ministro Barbosa, ouse apresentar qualquer projeto de regulação. E até
que alguém tenha coragem para tanto, vamos ter de continuar convivendo
com esse tipo de jornalismo comprometido apenas com os interesses,
políticos e econômicos, dos barões das comunicações.(Artigo postado no portal247)
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