247 – Com 43%
de intenções de votos, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira 20
pelo instituto Ibope, e indicações de sobra para, além de ganhar em
primeiro turno, bater qualquer outro adversário num forjado segundo
turno, a presidente Dilma Rousseff parece ser duas.
Uma Dilma é, exatamente, a líder
popular que jamais perdeu a liderança nas pesquisas desde que assumiu
seu mandato, em janeiro de 2011. A figura que, mesmo após as
manifestações de junho do ano passado, o máximo que permitiu de
esperança aos adversários foi uma remota possibilidade de segundo turno.
Nunca uma ultrapassagem. Aquela que o público identifica como
patrocinadora de políticas sociais compensatórias e inclusivas,
co-responsável pela retirada de 40 milhões de brasileiros da linha da
pobreza.
A presidente Dilma Rousseff, enfim, que segue tranquila – de acordo com a ciência das pesquisas, frise-se – para a reeleição.
Outra Dilma é a que surge ao
público, diariamente, pela ótica dos veículos da mídia familiar e
tradicional. A presidente que não gosta ou não saber fazer política
partidária (1); não se entende com o Congresso (2); perde aliados por
tratá-los de maneira espartana (3); pilota uma política econômica que
sobe juros e é leniente com a inflação (4); confunde e desanima
empresários (5); não sabe o que fazer com a crise no setor elétrico (6);
ignora assuntos internacionais polêmicos (7); etc etc.
Uma Dilma, portanto, que, de acordo com análises publicadas aos borbotões, estaria cada vez mais isolada no Palácio do Planalto.
Mas à hipotética pergunta 'qual
Dilma você considera a verdadeira', a mais recente pesquisa Ibope indica
que o público vê muito mais a presidente competente do que a executiva
enrolada em dificuldades. A ponto de demonstrar, nas 43% de intenções de
voto, que quer mantê-la já em primeiro turno no cargo.
Desta vez, a novidade da pesquisa
foi exatamente a de não ter novidade. Nos boatos que cercaram a sua
divulgação, capazes de mexer forte no desempenho das empresas estatais
na bolsa de valores de São Paulo, a pesquisa Ibope iria mostrar uma
queda nas intenções de voto da presidente. Não seria de estranhar.
Afinal, o levantamento de campo se deu na semana passada, depois que os
pré-candidatos da oposição puderam fazer todas as críticas que bem
entenderam ao desempenho da economia no ano passado. E também ao
comportamento político da própria presidente. Como se viu pelos 43%
dados a Dilma na pesquisa Ibope, suficientes para mantê-la no Palácio do
Planalto, por mais quatro anos, em primeiro turno.
Nem mesmo os reflexos do julgamento
do chamado mensalão, o agravamento da violência urbana, a estiagem no
Sudeste ou as enchentes no Sul foram capazes de abalar o desempenho de
Dilma.
Uma das explicações para a
manutenção na popularidade da presidente está em seu estilo. Dilma, como
se diz popularmente, dá a cara para bater. Em discursos nos palanques
de inaugurações, nas redes nacionais convocadas para pronunciamentos
oficiais e na maneira de agir nos bastidores, a presidente vai-se
notabilizando por enfrentar os problemas sem subterfúgicos.
Especialmente aqueles que, em tese, serviriam para proteger sua imagem.
Nesta semana, cujos fatos não
influenciaram a pesquisa, fechada anteriormente, a presidente mostrou
bem como gosta de agir. Ela respondeu pessoalmente a acusações em off –
sem identificação da fonte de informação – publicadas nos jornais O
Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Os jornais alegaram ter obtido
de diretores da Petrobras informações segundo as quais Dilma teria tido
todas as informações necessárias para, em 2006, barrar a compra, pela
estatal, da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Fiel ao seu estilo de não deixar
para depois o que pode responder agora, Dilma, divulgou uma nota
garantindo que o parecer que orientou o conselho de administração da
Petrobras foi "omisso" quanto a pontos do contrato, notadamente a
cláusula de compra obrigatória em caso de litígio entre sócios, e
"juridicamente falho".
Não é a primeira vez que Dilma
encara de frente uma questão grave. No início de sua gestão, ela demitiu
ministros por suspeitas de malfeitos. Por menos que isso, no oitavo mês
de governo, mandou o então ministro da Defesa interromper viagem à
Amazônia e voltar imediatamente para ser demitido do cargo. Motivo: em
entrevista, ele haia criticado duas das mais próximas auxiliares da
presidente, a atual ministra Ideli Salvatti e a ex Gleisi Hoffman.
Não é comum, no Brasil, que os
políticos façam o que de melhor se espera deles. Explicações objetivas
sobre situações de suspeita ou atitudes diretas para casos de disciplina
quase sempre são trocados por pronunciamentos obtusos e posições
dúbias. A conciliação é a regra sobre o enfrentamento.
Residem no estilo tratoral que Dilma
cultiva para si própria – e na suprema realização deu seu governo até
aqui, a criação de 4,8 milhões de empregos desde janeiro de 2011 – as
explicações para a perfomance superior da presidente sobre seus
adversários. A presidente vem ocupando redes de rádio e televisão para
falar até mesmo sobre o Dia da Mulher, como fez em 8 de março. Para a
oposição, isso é uso do cargo para fins eleitorais. Mas além dos
tribunais já terem recusado essa tese, não aceitando nem mesmo a
imposição de pequenas multas à presidente, o que mais sobressai é que o
povo não indica estar vendo nenhum problema nisso.
A julgar pelos números atuais, o povo gosta sim da Dilma que a mídia não costuma mostrar.
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