Janio de Freitas da Folha de São Paulo
A ocupação de escolas, e já também de faculdades, não vai cessar, caso o
governo não admita que cometeu um ato de autoritarismo, com a imposição
de uma alegada "reforma do ensino" sem a discutir sequer com uma das
várias partes diretamente envolvidas no assunto.
Novas ações do Movimento de Trabalhadores Sem-Terra entram em processo
de gestação, que recebeu agora o estímulo de invasões policiais e
prisões em áreas sem conflito. O Movimento dos Sem-Teto fará mais
comprovações de que a ferocidade policial, outra vez aplicada em
desocupação no centro de São Paulo, incentiva-o em vez de o intimidar.
A intenção do governo, agora silenciada mas não abandonada, de rever
demarcações de reservas indígenas (chegará à revisão também de áreas de
proteção ambiental), atenderá aos interesses fundiários representados
pelo senador Ronaldo Caiado, mas já são motivo de planos de resistência.
A história registra como essas resistências são respondidas pela polícia e pelos ambiciosos de terra com seus os jagunços.
Em meado da semana encerrada, houve ao menos dois encontros reservados
de representantes de diferentes movimentos ou setores (nenhum de
estudantes).
Uma dedução possível é a de que ações conjuntas, e até mesmo uma
conjugação mais geral, sejam ideias sob exame. Vê-se que é uma situação
complexa. Muito mais a de fora da política do que a de seu interior
alienado.
A contribuição do governador Geraldo Alckmin para tal situação é
inequívoca. A cada episódio de sua PM ditatorialesca, Alckmin comparece
com suas falazinhas de bom moço, cada sílaba bem escandida, a fisionomia
neutra, ou indiferente. E nenhuma das ações de sua obrigação
governamental.
A escolha dos seus secretários de Segurança é significativa. O atual
Magino Alves, que só faz gaguejar o fugidio "vamos investigar" as ações
truculentas e ilegais da PM; o anterior, Alexandre Moraes, está por
dentro dos ataques a jato contra petistas, mas por fora do que a sua
polícia apronta. E ele depois acoberta.
A desocupação policial de escola sem autorização judicial foi
arbitrariedade dupla: usurpação de poder do Judiciário e ação policial
indevida.
O ataque da PM a uma trupe de teatro financiada pelo governo é uma
violência indecente, tanto quanto a cobertura recebida do secretário de
Segurança e, portanto, do governador.
Na desocupação de um prédio, Marlene Bergamo, que está entre os melhores repórteres-fotográficos do país, saiu com um ferimento no abdome
que é como uma cicatriz moral do governo que a atacou. Tudo isso na São
Paulo de um Alckmin desejoso de ocupar a Presidência. Para quê?
Um governo federal que só pensa em impor um teto arbitrário e duradouro
aos gastos do país carente não precisa, além dessas, de mais palavras
sobre sua responsabilidade pelo horizonte que escurece. Mas, é verdade,
não se poderia esperar outra obra de Temer e do grupo de que, fraco, se
deixou cercar.
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