Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A
oposição protocolou nesta quarta um novo pedido de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff. O documento é uma versão recauchutada do
anterior, apresentado no início de setembro.
"Estamos
fazendo recorta e cola", resumiu um dos signatários, o advogado Miguel
Reale Junior. Ele foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique
Cardoso. É filiado ao PSDB, partido que perdeu as últimas quatro
eleições presidenciais.
O
texto também recebeu o jamegão do advogado Hélio Bicudo, um ex-petista
que se dedica há pelo menos dez anos a combater o PT. Em 2010, ele
afirmou que a eleição de José Serra era "a maneira de se salvar a
democracia no Brasil". O tucano foi derrotado nas urnas. Felizmente, o
regime político do país não mudou.
A
petição de Reale Junior e Bicudo tem a estridência dos antigos
tribunos. Abusa das maiúsculas, em afirmações como a de que o
ex-presidente Lula "NUNCA SAIU DO PODER". Também exagera nos pontos de
exclamação. Reúne nada menos que 28, salpicados em expressões como "Um
acinte!"e "O caso é grave!".
O
documento cita 16 vezes a palavra corrupção. Apesar disso, os líderes
da oposição aceitaram entregá-lo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
acusado de embolsar dinheiro desviado da Petrobras.
Depois
do ato, o líder do PSDB, Carlos Sampaio, disse que o peemedebista ainda
tem condições de permanecer no cargo. "Enquanto o presidente dessa Casa
não renunciar, ele tem a legitimidade e a prerrogativa de tomar as
decisões", declarou.
Politicamente,
o pedido "recorta e cola" foi uma ajuda e tanto para Cunha. Ele ganhou
um instrumento para continuar na cadeira, intimidando governo e
oposição.
Para
os tucanos, a aliança com o correntista suíço é uma estratégia de alto
risco. Nos últimos anos, o PSDB pediu votos pregando a ética na
política. Ao abraçar Cunha, pode acabar sem impeachment e sem discurso
para as próximas eleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário