Jânio de Freitas – Folha de S.Paulo
Há 60 anos, 'O Petróleo é Nosso' foi mais do que uma campanha, foi uma batalha. Olha aí o século 20 de volta
A
pressão para que seja retirada da Petrobras a exclusividade como
operadora dos poços no pré-sal começa a aumentar e, em breve, deverá ser
muito forte. Interesses estrangeiros e brasileiros convergem nesse
sentido, excitados pela simultânea comprovação de êxito na exploração do
pré-sal e enfraquecimento da empresa, com perda de força política e de
apoio público. Mas o objetivo final da ofensiva é que a Petrobras deixe
de ter participação societária (mínima de 30%) nas concessionárias dos
poços por ela operados.
Como o repórter Pedro Soares já relatou na Folha,
a Petrobras está extraindo muito mais do que os 15 mil barris diários
por poço, previstos nos estudos de 2010. A média da produção diária é de
25 mil barris em cada um dos 17 poços nos campos Lula e Sapinhoá, na
Bacia de Santos (de São Paulo ao Espírito Santos). Perto de 70% mais.
Não
é à toa que, se a Petrobras perde a confiança de brasileiros, ganha a
da China, que a meio da semana concedeu-lhe US$ 3,5 bilhões em
empréstimo com as estimulantes condições do seu Banco de
Desenvolvimento.
O
senador José Serra já apresentou um projeto para retirada da
exclusividade operativa da Petrobras nos poços. Justifica-o como meio de
apressar a recuperação da empresa e de aumentar a produção de petróleo
do pré-sal, que, a seu ver, a estatal não tem condições de fazer: "Se a
exploração ficar dependente da Petrobras, não avançará".
A
justificativa não se entende bem com a realidade comprovada. Mas Serra
invoca ainda a queda do preço internacional do petróleo como fator
dificultante para os custos e investimentos necessários às operações e
ao aumento da produção pela Petrobras. Mesmo como defensor do fim da
exclusividade, Jorge Camargo, ex-diretor da estatal e presidente do
privado Instituto Brasileiro do Petróleo, disse a Pedro Soares que "a
queda do [preço do] petróleo também ajuda a reduzir o custo dos
investimentos no setor, pois os preços de serviços e equipamentos seguem
a cotação do óleo". E aquele aumento da produtividade em quase 70%
resulta na redução do custo, para a empresa, de cada barril extraído.
O
tema pré-sal suscita mais do que aparenta. As condições que reservaram
para a Petrobras posições privilegiadas não vieram só das fórmulas de
técnicos. Militares identificaram no pré-sal fatores estratégicos a
serem guarnecidos por limitações na concessão das jazidas e no domínio
de sua exploração. A concepção de plena autoridade sobre o pré-sal
levou, inclusive, ao caríssimo projeto da base que a Marinha constrói em
Itaguaí e à compra/construção do submarino nuclear e outros.
Há 60 anos e alguns mais, "O Petróleo é Nosso" foi mais do que uma campanha, foi uma batalha. Olha aí o século 20 de volta.
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