segunda-feira, 21 de abril de 2014

Discriminação inexplicável


Trata-se de um fato inusitado que só encontra paralelo, por coincidência, na Semana Santa de 1964,  quando, dez dias antes do dia 31, os padres da igreja da Candelária trancaram as portas para impedir a entrada de marinheiros recém anistiados pelo presidente João Goulart por conta da  rebelião contra o ministro da Marinha. O grupo ia pela avenida Presidente Vargas, do Palácio dos Metalúrgicos ao Arsenal de Marinha, quando seus lideres quiseram agradecer a Deus pelo movimento não ter redundado em sangue. Ao tentarem entrar, foram repelidos com o grito de “comunistas não rezam aqui”.
Será que os sem-teto postados em frente à catedral, com mulheres e crianças,  ouviram coisa parecida? Eles haviam sido expulsos do prédio onde se tinham assentado e, sem ter para onde ir, acamparam em terreno da catedral.  Poderiam até ter participado das  cerimônias sacras, mesmo sujos, famintos  e mal vestidos. Faz tempo que o comunismo saiu pelo ralo, não se encontrando outra explicação a não ser de que   a péssima condição humana do grupo feriu os sentimentos do cardeal.
Aguarda-se uma explicação da Arquidiocese, lembrando-se que no intervalo entre os dois episódios a Igreja evoluiu do apoio inicial ao golpe de 64 a uma posição de resistência fundamental à ditadura e à adoção de mil posturas em favor dos pobres e oprimidos. Na mesma hora em que no Rio eram canceladas as cerimônias sacras, no Vaticano o Papa Francisco lavava e beijava os pés de infelizes e humildes irmãos despojados pela sorte.

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