quinta-feira, 7 de maio de 2020

No STF, conceito de Bolsonaro é o de ‘moleque”

FERNANDO BRITO · no Tijolaço



A atitude intempestiva de Jair Bolsonaro de liderar uma passeata de empresários ao Supremo Tribunal Federal para exigir o fim das medidas restritivas adotadas em razão da pandemia do novo coronavírus causou, já se sabe, enorme irritação na Corte. 

Ontem, em sua fraca e tardia fala sobre as agressões da semana passada ao STF, Dias Tóffoli disse que a irresignação com as decisões do Supremo deveria manifestar-se por recursos.

Hoje, Bolsonaro mostrou que está disposto a fazer isso por golpes baixos.

Como o Tribunal decidiu – e por unanimidade – que cabe a prefeitos e governadores definirem a extensão das medidas de restrição ao funcionamento do comércio e do deslocamento das populações, o que Bolsonaro quer, muito mais que uma improvável revisão desta decisão, é atirar neles e no próprio Judiciário a responsabilidade pela crise econômica que é inevitável.

Este é o ponto essencial, não o da alegada recuperação da economia. O governo e os empresários sabem perfeitamente que não se livrarão da crise de consumo. Sabem, também, que o desemprego está, no máximo, represado – e os mais de 20 milhões de norte-americanos que perderam seus postos são a prova do que se passará por aqui.

Questão é que Bolsonaro usa todo tipo de expediente para representar o papel de inocente naquilo em que tem culpa: o fato de que o Governo não só não se preparou como não consegue operar com um mínimo de eficiência no combate à pandemia, ainda mais agora que trocou o simpático Luiz Mandetta por um ministro com ar de corvo e sem nenhuma assertividade.

É evidente que a jogada de Bolsonaro não vai “colar’ e o Supremo, com os inquéritos sobre as “fake news” e o das acusações de Sergio Moro tem as ferramentas para reagir à provocação do presidente.

Tem, sobretudo, cada vez mais certeza de que trata com um moleque, sem qualquer limite ético em seu comportamento

De resto, como bem observou Helena Chagas, em artigo n’Os Divergentes, foi a pior hora para este tipo de manobra sórdida: o dia seguinte ao que deu ao país 600 mortos e mais de 10 mil novos infectados, recordes mórbidos que passaremos a bater todos os dias

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