Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Desde
a posse dos novos parlamentares, o Congresso não ficava tão cheio
quanto na última terça-feira. Centenas de homens de terno e mulheres de
salto alto cercavam deputados, entupiam corredores e se esparramavam nas
poltronas e até no chão do salão verde.
A
presença de visitantes pode parecer boa notícia, mas ninguém estava ali
para protestar a favor ou contra o impeachment, a reforma política ou a
redução da maioridade penal. O que os unia era um objetivo menos nobre:
pressionar os parlamentares para engordar os próprios salários.
Em
plena crise, sindicatos de servidores decidiram aproveitar a
fragilidade do governo para arrancar aumentos muito acima da inflação. O
mote da vez é vincular salários à remuneração dos ministros do STF.
Na
terça, a Câmara aprovou em primeiro turno um gatilho que beneficia
servidores da AGU, procuradores municipais e delegados da PF e das
polícias estaduais. Os aumentos chegam a 59% em uma só tacada.
Hoje
o salário inicial dos advogados da AGU é de R$ 17,3 mil. Pelo texto
aprovado, os recém-contratados ganharão R$ 27,5 mil. É difícil imaginar
uma profissão do setor privado que ofereça tanto dinheiro a quem está
apenas iniciando a carreira.
Em
um surto de responsabilidade, a Câmara barrou um segundo trem da
alegria, que beneficiaria fiscais do trabalho, auditores da Receita e
procuradores estaduais. Mesmo assim, as benesses aprovadas custarão mais
R$ 2,4 bilhões ao Erário.
Ninguém
é contra valorizar o servidor público, mas a mera discussão de aumentos
tão elevados em meio à crise mostra que Brasília continua a se ver como
uma ilha da fantasia. No Brasil real, milhões de trabalhadores sofrem
com demissões, falências e reduções de salários.
O
contribuinte que confia no STF para frear a farra com dinheiro público
pode esperar sentado. Nesta quarta, os ministros da corte aprovaram a
elevação dos próprios contracheques para R$ 39.293,28.
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