segunda-feira, 8 de abril de 2019

Lula, magistrados e a elite conservadora


LulaFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por Alex Ribeiro no Blog da Folha
Perto de completar um ano na prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desperta paixões das mais extremas. Diante da sua representatividade ele se tornou o presidente mais popular da história do País, principalmente pelos seus feitos aosconsiderados mais pobres, como o Bolsa Família e o Prouni. No entanto, o ódio ao líder mor petista cresceu significativamente em boa parte da classe política e dos magistrados – alguns deste grupo são defensores ferrenhos da atuação da Operação Lava Jato. 

Diante dessa aversão a figura de Lula pelos magistrados é significativo analisar as principais figuras públicas que estão à frente da Lava Jato. Professores de Universidades Federal do Paraná, como Ricardo Costa de Oliveira, Mônica Helena Harrich Silva Goulart e Ana Crhistina Vali e o professor da Universidade Federal de Campina Grande-Paraíba, José Marciano Cordeiro, realizaram um levantamento sobre as relações familiares, a estrutura do poder político, os partidos políticos, e as formas de nepotismo dos Operadores de Direito que foram os principais responsáveis pela ódio a classe política e também ao antipetismo.

O método utilizado para essa composição social é chamado de prosopografia. Este
procedimento ajuda a identificar a biografia, a trajetória profissional e a formação de um determinado grupo. Até o período que o juiz Sérgio Moro atuava na Operação, a Lava Jato possuía 22 membros em sua força-tarefa.

Moro é descendente de italianos que chegaram no Paraná na década de 60. Ele é casado com Rosângela Wolff de Quadros. Esta faz parte da Advocacia Zucolotto Associados em Maringá. Escritório que defende empresas petrolíferas estrangeiras. Os dois pertencem a famílias com parentes desembargadores e que passaram a formar parte do estamento burocrático do Paraná mantendo seus privilégios e poderes. Rosângela é a procuradora da Federação Nacional das APAES. 

O secretário é Flávio José Arms, que tem atuação política no órgão. O sobrinho de Flávio, Marlus Arms de Oliveira, atuou juridicamente no mesmo órgão e foi advogado do ex-deputado Eduardo Cunha e sua esposa Cláudia Cruz, além do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Ou seja, são redes jurídicas que operam em harmonia. E, claro, há quem lucre com isso.

Já o procurador Deltan Dallagnol, nascido no Paraná, é filho do procurador de justiça, Agenor Dallagnol, que também é membro da Igreja Batista. Os valores desta família são ligados a ideologias do país na década de 70, período Militar. 

Até 2018, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima atuava na Lava Jato. Ele era considerado o estrategista da investigação. Ele é filho do deputado estadual da Arena
- partido que apoiava o regime militar - Osvaldo dos Santos Lima. Este ainda foi
promotor e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná em 1973. O avô de Carlos Fernando foi Luiz dos Santos Lima, também magistrado e atuante em São Mateus do Sul, no Paraná.

O breve levantamento deste triunvirato da Operação Lava Jato nos mostra a
característica deste colegiado. Elas agem por conceitos, por ideias, vivências, mesmo que até inconscientemente. A operação jurídica do grupo revela que existe uma sobrevivência nos modos operandi da justiça desde a época do Império do Brasil. Os pensamentos políticos destas pessoas se equivalem. A teia familiar é o maior exemplo disso.

Se cabe ou não a punição ou a soltura de Lula é a justiça que vai resolver. Mas os
magistrados que compõem este Poder são repletos de vícios, pertencentes a dinastias jurídicas. São pessoas que beberam da prática do discurso dito cristão em prol da família, da moral e dos bons costumes. São eles os responsáveis por decidir quem são inocentes ou culpados. E a História revela quem são os grupos mais julgados e condenados. E com certeza não eram os mais privilegiados. Para estes, o "timing" é diferente.

*Alex Ribeiro é doutorando em História Política pela Universidade Federal da Bahia, cientista político pela UFPE e jornalista.

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