247 – Depois de 30
anos, a jornalista Miriam Dutra, que foi uma das principais
profissionais da televisão brasileira, resolveu quebrar o silêncio em
relação a seu caso extraconjugal com o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso.
A entrevista é reveladora. Ao mesmo
tempo em que qualifica FHC como uma pessoa sorrateira e manipuladora,
Miriam também aponta os bastidores da blindagem midiática em torno do
caso. Enquanto a Globo decidiu exilá-la em Portugal, Veja publicou uma
entrevista em que ela própria contava uma mentira para proteger FHC: a
de que seu filho era fruto do relacionamento com um biólogo.
Antes da disputa presidencial de
1994, quando FHC se elegeu presidente pela primeira vez, vários veículos
de comunicação investigaram a história do filho extraconjugal do então
candidato tucano. Mas nada foi publicado.
Miriam só decidiu falar após ter
saído oficialmente da Rede Globo, onde já não aparecia nem por meio de
buscas no site, numa entrevista a uma revista internacional, focada no
Brasil.
No depoimento, ela conta à repórter Fernanda Sampaio, da revista BrazilcomZ, os bastidores de seu relacionamento
com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e as consequências da
gravidez de Tomas Dutra Schimidt, que seria filho presumido de FHC – uma
história sempre abafada pela imprensa brasileira.
Miriam conheceu Fernando Henrique
quando o tucano era suplente de Franco Montoro, que assumiu o governo de
São Paulo (83-87). Ela comenta o fatídico episódio em que FHC se sentou
na cadeira de prefeito de São Paulo antes do resultado das eleições:
"Ele se acha o máximo". Depois de anos, tentou romper o relacionamento.
"Ele não deixava romper... ele me perseguia... quando eu ia sozinha nos
lugares, ele ia atrás".
Miriam também disse que ficou
'assustada' quando o político começou a fazer de tudo para assumir o
poder. "Ele mudou muito, me assustou". Disse que "era apaixonada por
ele" e que o ex-presidente dizia que ela era o pé em sua realidade. "Ele
era muito... como é que eu vou falar... da aristocracia de São Paulo...
sabe? Irreal".
Sobre a gravidez de Tomas, em
janeiro de 1990, afirma que quis ter o filho. "Eu tive uma relação de
seis anos, fiquei grávida, decidi manter a gravidez, então é meu. Eu sou
uma mulher, eu que decido isso! Se eles não querem, eles que se
cuidem". Ela nega uma história relatada pelo jornalista Palmério Dória,
autor do livro Privataria Tucana, de que teria sido chamada de
'rameira' pelo então senador, quando teria ido ao seu gabinete comunicar
a gravidez.
"Eu nunca fui ao gabinete dele! Ele
dormia na minha casa, eu não precisava disso", rebateu. "Como ele tinha
histórias com secretárias, assistentes, com milhões de jornalistas, ele
[Palmério] deve ter me confundido com outra pessoa", provocou a
jornalista. "Até agora, tudo o que foi publicado sobre mim foi mentira",
ressaltou Miriam.
Ao falar do famoso exame de DNA, que
teria dado resultado negativo, ela diz que foi o próprio FHC quem
divulgou: "Ele divulgou! E isso me prejudicou muito. É o estilo dele:
fazer tudo sorrateiramente e posar de bom moço". Ela desmente a história
de que, mesmo o filho não sendo de Fernando Henrique, o ex-presidente
teria decidido assumi-lo. "O Tomas nunca teve pai, nunca foi
reconhecido", afirma. "Se falarem... provem! Porque eu nunca vi nenhum
documento. Essa história de que veio aqui em Madri é tudo mentira!".
Questionada sobre o episódio em que
FHC teria ido até os Estados Unidos se encontrar com Tomas para um
segundo teste, ela responde: "Eu acho que é mentira, porque eu só vi um
documento, mas todo mundo pode enganar com um DNA". Miriam diz ainda que
nunca proibiu que se fizesse o exame de DNA. "Ao contrário, eu sempre
incentivei que fizesse, que tivesse contado, essa coisa toda". Outra
importante revelação feita pela jornalista é a de que FHC, segundo ela, a
forçou dar uma entrevista à revista Veja: "Me obrigou a dar uma
entrevista pra Veja dizendo que o pai do meu filho era um biólogo. Foi
Fernando Henrique com Mário Sérgio Conde (Mário Sérgio Conti, hoje na
Globonews)".
"Exílio" da Globo
Ao contrário do que já foi
divulgado, a jornalista assegura que foi ela quem decidiu sair do
Brasil. "Eu decidi sair sozinha do Brasil, ninguém me mandou pra fora,
isso é muito importante ficar bem claro, ninguém me mandou embora!". Ela
descreve o cenário na Globo à época: "me colocaram abaixo de qualquer
coisa". "Aquele 'Globo memória' eles não me colocaram. Eu fui a primeira
mulher que fiz o Bom dia Brasil, eles não me colocaram, não colocaram
sequer o meu nome. Tentaram apagar a minha imagem, porque não
interessava pra eles".
"Esse exílio foi muito pesado e todo
mundo achando que era um exílio dourado, que eu estava super bem. Eu
passei muita dificuldade, muita solidão, focada nos meus filhos, e
tentando muito sempre trabalhar e pedindo pra Globo, pelo amor de Deus
pra fazer alguma coisa, e eu era sempre cortada, sempre cortada", conta.
O prejuízo na carreira é a coisa que
mais lhe dói nessa história, admite à repórter. "Agora meu trabalho
sempre foi tão importante pra mim, isso me dói. Ter lutado tanto e de
repente, por um homem completamente manipulador e por ter trabalhado em
um grupo de comunicação tão... eu queria usar um verbo, mas não me
permito usar esse verbo... eu fui prejudicada".
Leia aqui a íntegra da entrevista.
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