Folha Globo (Foto: Reprodução)
O cerco vai se fechando ao governo mais catastrófico da história do país. Não há mais base social, não há mais disposição para apresentar projetos, não há mais a intimidação judicial de Moro para chantagear parlamentares, não há mais partido do governo, não há mais política de boa vizinhança com poderes, não há mais como disfarçar o fracasso do antipetismo edificado em um ex-capitão boçal, miliciano e, agora, miseravelmente decadente.
A mídia corporativa finalmente percebeu o timing e disparou sua habitual hipocrisia salvadora, a la Rochefoucault: irá fazer jornalismo a contragosto para impedir a destruição total do país (um país destruído não permite fraudes e manipulações).
O gesto sintomático da grande imprensa é retirar seus jornalistas da cobertura do Palácio da Alvorada, residência putrefata de um presidente carcomido pelo ódio, pelo medo e pelo desespero.
Apoiadores de Bolsonaro - os parcos e parvos imbecis suicidas - hostilizam jornalistas todo o santo dia. Para evitar uma tragédia, os veículos ordenaram um basta: não mais irão cobrir o chiqueirinho do Alvorada.
Por que demorou tanto?
Porque a mídia corporativa é teimosa. Eles acreditavam que Bolsonaro tomaria jeito. Frustrada em definitivo essa esperança, eles abrem a caixa de ferramentas logísticas e editoriais e partem para mais uma rodada de oportunismo sobre um presidente zumbi que irá cair em breve.
Alvíssaras.
Antes uma mídia hipócrita e oportunista que uma mídia genocida.
O peso simbólico do abandono na cobertura presidencial é gigantesco. Bolsonaro reclama da mídia tradicional todos os dias, mas precisa dela para manter sua legião minguada - sic - de ‘bostas’ de prontidão.
Na vertigem de um delay colossal dessa mídia acovardada que, de repente, resolveu flertar com a prática jornalística, resta uma pergunta: eles não irão fazer autocrítica?
Nós, do ‘jornalismo alternativo’ estamos avisando há tanto tempo da presepada que é cobrir a saída da besta do Alvorada e eles nem agradecem?
Fica uma cifra de solidariedade malandra aos nossos pares de cativeiro.
Mais um pouco, eles abraçam a tese do impeachment e do risco de mais um golpe - aliás, daqui a pouco, eles dirão que ‘foi golpe’ (aquele, de 2016).
Esse dia vai chegar e eu vou querer ver.
*Gustavo Conde é linguista.
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