Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A semana da votação que poderia derrubar Michel Temer começou em clima de marasmo. Governo e oposição apostam no arquivamento da segunda denúncia contra o presidente. Se a previsão se confirmar, ele ganhará mais 14 meses de hospedagem grátis no Jaburu.
Nesta segunda, a Câmara permaneceu vazia. A sessão da tarde foi cancelada por falta de quorum. Mais cedo, um deputado solitário discursou em homenagem à Sociedade Brasileira de Eubiose. Os próximos eventos da entidade serão um simpósio sobre o bem e o mal, um recital de piano e uma oficina de origami.
Temer compareceu a uma cerimônia militar, mas abriu mão de discursar. Os parlamentares que decidirão seu futuro não estão interessados em palavras, e sim no "Diário Oficial". Nesta terça-feira, deve ser publicado o decreto que oferece desconto de até 60% em multas ambientais.
A medida é mais um presente para os ruralistas. Na semana passada, a bancada do trator já havia festejado a portaria que afrouxa o combate ao trabalho escravo. Não há limites ao retrocesso para barganhar votos.
Sem esperança numa zebra, a oposição recolheu as armas. Nos últimos dias, não houve manifestação expressiva em nenhuma capital do país. O ex-presidente Lula também evitou mobilizar sua tropa. Apareceu numa ocupação do MTST e viajou para fazer pré-campanha nos cafundós de Minas Gerais.
A omissão tem motivo. Apesar do ressentimento com o impeachment, o PT não está interessado na queda de Temer. O partido prefere enfrentar um presidente desgastado em 2018. Por isso, escolheu a tática de cruzar os braços e esperar a eleição.
Essa apatia também favorece o silêncio dos movimentos verde-amarelos que fizeram barulho no ano passado. Sem pressão para voltar às ruas, a turma permanece escondida atrás da tela do celular. Em vez de protestar contra a corrupção, seus líderes distraem a plateia atacando museus e novelas de TV.
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