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terça-feira, 18 de julho de 2017

Dois tucanos não se beijam

Rudolfo Lago – Blog Os Divergentes
“João Dória é um prefeito desfocado. A cidade está piorando, os buracos aumentando, os faróis estão quebrados, o capim aumentando e ele desconhece isso. Esse cara está delirando. Precisa focar na prefeitura e mostrar resultado”. O autor da frase acima é: a) O ex-prefeito de São Paulo, do PT, Fernando Haddad; b) O ex-presidente Lula, do PT; c) Celso Russomano, eterno candidato a prefeito de São Paulo; d) Não sei, mas certamente foi dita por alguém de algum partido adversário do PSDB de João Dória; e) Nenhuma das respostas anteriores.
Marque a letra “e” para a resposta certa. Por incrível que pareça, a frase acima não foi dita por um adversário do PSDB. Foi dita por um filiado do PSDB. Um filiado do PSDB de São Paulo. Da mesma cidade que é administrada por João Dória. Ou seja: a frase é de alguém que, supostamente, é aliado de João Dória. A frase é do ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, que é nada mais nada menos que o centro de estudos e de formação política do PSDB, diretamente ligado à direção nacional do partido. Está publicada na edição de hoje do jornal O Estado de S.Paulo.
Eis aí acima o exemplo acabado dos dilemas tucanos. Que, por serem tucanos, parecem virar  mais dilemas ainda, dada a fama que eles têm de sofrer mais que quaisquer outros para tomar suas decisões.
Na sua maior parte, não pode haver dúvida que as vitórias petistas nas eleições presidenciais se deram pela percepção do eleitor de que o partido de Lula e Dilma apresentava no momento as melhores propostas. Mas não se pode desconsiderar a parcela de responsabilidade que teve o próprio PSDB nessas derrotas por não conseguir se unir inteiramente em nenhuma dessas eleições em torno dos candidatos que lançou.
Em 2002, quando José Serra foi o candidato contra Lula, nem Aécio Neves nem Tasso Jereissati se moveram muito para ajudá-lo. Aécio por já almejar sua candidatura no futuro, Tasso dando um apoio informal a Ciro Gomes (então candidato pelo PPS) no Ceará. Em 2006, Geraldo Alckmin atropelou as pretensões de Serra e de Aécio e também concorreu sem contar com um grande entusiasmo dos outros dois. Serra voltou a ser candidato com 2010 outra vez sem contar com muita ajuda de Aécio. E Aécio disputou com Dilma em 2014 sem ter grande adesão de Serra a seu favor.
Agora, João Dória vende a sua eleição em São Paulo como a vitória de um novo jeito de fazer política. Um inusitado jeito, digamos, “apolítico” de fazer política. Que iria de encontro ao jeito tradicional, que teria produzido a usina de escândalos que estamos vivendo. E é aí que a coisa pega. Porque um dos representantes desse jeito “tradicional” de fazer política, um dos nomes que aparece bem enrolado nas últimas denúncias é o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, de quem José Aníbal é aliado.
Enfim, Dória quer se apresentar como o novo. Avalia que, com esse discurso, tem condição de se cacifar como alternativa nas eleições presidenciais do ano que vem. Mas, para isso, ele precisa aprofundar a desconfiança do eleitorado com relação ao tradicional, ao “velho”. Por isso, ele vem cobrando a saída imediata de Aécio da presidência do partido. Já a ala ligada a Aécio quer dar a ele a chance de uma “saída honrosa”.
“Saída honrosa” é fazer pacto com o velho. E quem quer se vender como novo não pode fazer pacto com o velho. Ou seja: a essa altura Dória, para se viabilizar como candidato à Presidência, precisa internamente ser adversário de Aécio. E Aécio ainda tem liderança no PSDB.
Ainda há Geraldo Alckmin na briga por ser também candidato em 2018. Detonados nas suas pretensões, Aécio e Serra hoje parecem fora do páreo. Na disputa interna, vai o PSDB de novo criando ele mesmo suas próprias dificuldades de se viabilizar eleitoralmente. Diz o ditado que dois bicudos não se beijam. Tucanos são bicudos…

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