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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Temer, um presidente acuado

Ricardo Noblat
Quem não quer ser amado? Todos querem. O presidente Michel Temer também quer, por mais que diga, como voltou a repetir, ontem, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que se dará por feliz se ao fim do seu governo o povo olhar para ele e disser:
- Esse sujeito aí colocou o Brasil nos trilhos. Não transformou na segunda economia do mundo, mas colocou nos trilhos.
Mas Temer sabe que por melhor que seja seu desempenho no cargo, dificilmente o deixará na condição de um líder amado pelos brasileiros. Falta-lhe carisma para isso. Sua ascensão à presidência se deu ao cabo de um processo político muito traumático.
De resto, seu período de governo, além de curto, enfrentará graves tormentas que, por ora, apenas se anunciam. Por mais que não queira, e por mais que se esforce para disfarçar a situação, Temer é um presidente acuado pelo acúmulo de dificuldades que enfrenta.
Foi essa a impressão que me deixou ao longo de uma hora e meia da entrevista durante o programa Roda Viva e de mais uma hora de convivência amena e descontraída em torno de uma mesa de almoço na última sexta-feira no Palácio da Alvorada.
Além dos problemas que a economia lhe reserva, Temer está cercado por muitos outros. A Lava-Jato é um deles. Se escapar de ser diretamente atingido por futuras delações, Temer será obrigado a lidar com o incômodo de ver ministros alcançados por elas.
Nesse caso, como ele admitiu ao responder a uma pergunta, chamará um por um para uma conversa a respeito. Estará aberta a porta por onde ministros em estado terminal deverão sair. A substituição de ministros não é uma tarefa fácil.
Às futuras delações deverá se seguir a decisão do juiz Sérgio Moro sobre o destino de Lula. Caso ele seja condenado, subirá a temperatura política no país trazendo mais instabilidade para o governo. É por isso que Temer não gostaria que Lula fosse preso.
Por lhe faltar apoio popular, Temer é refém do Congresso. E ali, no momento, é grande a insatisfação como o Poder Judiciário. Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, está disposto a confrontar o Judiciário na tentativa de salvar a própria pele.
A pele do próprio Temer poderá ser duramente arranhada, se não arrancada, se o Tribunal Superior Eleitoral impugnar a chapa formada por ele e por Dilma para disputar as eleições de 2014. O país ganharia um novo presidente a ser eleito pelo Congresso.
É uma combinação indigesta de fatores negativos à qual vem se juntar a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. Qual será a política externa de Trump? Como o protecionismo econômico defendido por ele refletirá por aqui?

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