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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Risco de retrocesso

Blog do Kennedy
Desde a vitória no primeiro turno no domingo, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, adota um comportamento extremamente político para quem continua batendo na tecla de que será exclusivamente um gestor. Aliás, nada mais político do que negar a política.
A respeito da decisão de elevar a velocidade nas marginais, Doria não age como gestor, mas como dono da verdade. Na “Folha de S.Paulo”, ontem, ele afirmou: “A decisão está tomada. Pode piar, pode reclamar. Ela vai ser adotada”.
Ora, anteontem, no “Estado de S.Paulo”, havia uma reportagem mostrando que o número de mortes caiu três vezes mais na capital paulista do que no Estado no período entre janeiro e agosto. No caso, são dados do Infosiga (Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo). É um órgão do governo do Estado, comandado pelo padrinho político de Doria, Geraldo Alckmin, e que tem parceria com um conhecido grupo de gestão, o Instituto Falconi, e empresas do setor privado, como a Ambev, que é reconhecida pela boa administração.
O que realmente faria um gestor que vai assumir daqui a três meses? Avaliaria esses números. Se achar que, mesmo assim, deve aumentar a velocidade nas marginais. Deveria dizer que faria uma experiência de seis meses para avaliar os números e que poderia rever novamente a sua decisão.
Mas é autoritária a forma como Doria trata de um tema que pode significar menos ou mais mortes na capital. A elevação das velocidades nas marginais poderá se revelar o capítulo inicial de retrocessos em boas políticas públicas em São Paulo.
Dilma era vendida como uma execelente gestora, mas se mostrou extremamente autoritária ao decidir quais políticas aplicar. Resultou num desastre. Que fique a lição.
No PSDB paulista, pegou mal Doria falar por Alckmin a respeito da permanência no partido em caso de o governador não ser escolhido candidato da legenda à Presidência em 2018. Afinal, são auxiliares do próprio governador que estimulam a possibilidade de ida dele para o PSB.
A respeito do ex-presidente Lula, Doria deu uma declaração inicial em resposta ao petista, que o chamara de aventureiro, dizendo que o visitaria em Curitiba. Falou no calor da vitória, no domingo, o que é compreensível diante da crítica de Lula.
Hoje, na Folha, Doria acrescentou que levaria chocolates e um cisne para Lula numa eventual prisão em Curitiba. No dia em que o ministro Teori Zavascki criticou com razão o tom midiático da forma como o Ministério Público apresentou a denúncia contra Lula, a declaração de Doria soa justamente midiática e até cruel.
Um prefeito que vai lidar com tantos problemas e que precisa fazer uma transição com Fernando Haddad, que se mostrou gentil e solícito, precisaria descer do palanque para obter resultados mais eficientes, como gostam de dizer os gestores.

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