É
fato o incômodo da classe política com a Lava Jato. Muitos políticos,
entre os quais Renan Calheiros, gostariam de enfraquecê-la. Aconteceu
nesta segunda uma manobra fracassada na Câmara para tentar anistiar o
caixa 2 praticado por parlamentares investigados.
Logo,
é conveniente que haja sempre vigilância em relação a tentativas de
abafar investigações de corrupção. Dito isso, o presidente do Senado tem
razão nas críticas à Lava Jato. É bom que ele as expresse publicamente,
ao contrário de ações sorrateiras como a que se tentou nesta
segunda-feira à noite na Câmara.
Renan
reconheceu que a Lava Jato é um “avanço civilizatório”, porque dá um
combate rigoroso à corrupção, mas pediu a separação do “joio do trigo”.
Apesar de ele responder a inquéritos no âmbito da Lava Jato, ele tem o
direito de criticar o que considerou “exibicionismo” e “excessos”.
Na
denúncia contra Lula, num grau maior do que já havia acontecido em
outras entrevistas dos investigadores, foram ultrapassados limites.
Pareceu um julgamento sumário contra o ex-presidente. A denúncia não
trouxe a acusação do crime de liderar ou participar de organização
criminosa, apesar de o procurador da República Deltan Dallagnol ter dito
que Lula era o “comandante máximo” do esquema de corrupção na
Petrobras.
A
Lava Jato não é imune a críticas. Numa democracia, os políticos podem
criticar e ser criticados, nós, jornalistas, podemos criticar e ser
criticados, policiais, procuradores e juízes podem criticar e ser
criticados. É bom que a Lava Jato esteja investigando poderosos e ricos
num grau inédito no Brasil. Mas não podemos colocar essa investigação
acima do Brasil, como se fosse uma entidade perfeita e sagrada. (Blog do Kennedy)
Se fosse assim, não precisaríamos ter eleições nem uma sociedade
civil e instituições fortes. Bastaria entregar o país aos integrantes
da Lava Jato. Acontece que a força-tarefa é formada por pessoas de carne
e osso.
Renan
pode até ter interesse direto no enfraquecimento da Lava Jato, mas as
palavras dele são corajosas, porque é difícil remar contra a maré. Quem
critica a Lava Jato é imediatamente acusado nas redes sociais, por
exemplo, de defensor da corrupção.
A
história do Brasil ensina que instituições que se fortalecem de forma
exagerada, como os militares em 1964, podem produzir mal ao país. O
ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, fez uma crítica
nessa linha na semana passada. Foi outro que teve a coragem de tornar
pública uma observação necessária.
Não
é incompatível combater a corrupção preservando o Estado Democrático de
Direito. Ter essa capacidade é que é sinal de avanço civilizatório.
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