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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Armando: “Pernambuco está sem rumo, sem liderança”

Do blog de Magno Martins 

O senador Armando Monteiro (PTB) creditou o esgotamento do Pacto Pela Vida, os problemas na saúde pública e a descontinuidade de obras no estado à falta de comando do governador Paulo Câmara (PSB). Em entrevista ao Programa Frente a Frente, na noite de ontem, ele disse que Pernambuco vive um momento de baixo astral e de desgoverno, que foram desencadeados após a morte do ex-governador Eduardo Campos. “Está sem rumo, sem lideranças. Esse é o sentimento. Problemas todos os estados têm e, devo reconhecer que há uma crise econômica no país, mas o que se verifica hoje em Pernambuco é uma falta de presença do governo”, afirmou o petebista.
Mais distante das questões locais quando assumiu o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando anunciou que voltará a fortalecer a presença da oposição ao socialista. O senador alfinetou ainda o partido do governador ao destacar que, embora o PSB tenha vetado a ocupação de cargos no governo interino de Michel Temer (PMDB), o ex-líder do PSB na Câmara, Fernando Filho, assumiu o Ministério de Minas e Energia.
Armando Monteiro falou ainda sobre a meta fiscal aprovada na última segunda-feira pelo Congresso. Favorável à medida, ele disse que o reajuste foi necessário para evitar que o país ficasse impedido de gastar, o que paralisaria a máquina pública. Mas criticou a maneira, segundo ele, capciosa, que o déficit do governo de Dilma foi apresentado à população. Confira a entrevista na íntegra:
Há possibilidade da volta da Dilma?
Eu diria que essa probabilidade é menor porque a votação no senado já espelhou uma situação, quando os 55 senadores votaram pelo afastamento, mas, embora pouco provável, essa hipótese não pode ser descartada. Por que? Porque o governo em exercício, que ainda é provisório, não tem a legitimidade. O presidente interino era vice, não foi votado como presidente. Se o governo se desempenhar bem, se responder às expectativas criadas e se a Lava jato, que hoje é o grande problema do Brasil e que a cada dia revela algo novo, e, sabendo que existe um núcleo do PMDB que desde o início aparece frequentemente nesse processo, surgir algum fato político mais relevante, é possível que até a votação alguns senadores mudem de posição. É possível, embora eu deva reconhecer que é menos provável.
Agora, senador, devemos lembrar que há um processo correndo no Tribunal Superior Eleitoral sobre as contas de campanha que pode também caçar a chapa e atingir o Temer
Essa hipótese, segundo as avaliações, suscitará no próximo ano. Como você lembrou, poderá atingir o presidente em exercício porque a interpretação é de que as contas não podem ser separadas, não podem ser individualizadas. Esse fato pode ocorrer, mas mais adiante.
Eu sei que a votação de anteontem foi por aclamação, mas na questão da meta fiscal contou com seu voto, não é?
O que acontece do ponto de vista do orçamento é o seguinte: se você não votar o ajuste da meta é como se você ficasse proibido de gastar, você iria parar o pais. Você deve lembrar o que aconteceu nos Estados Unidos, quando o Congresso não atualizou a meta e o estado americano ficou sem poder pagar nada. Eu não poderia, de forma alguma, contribuir para uma coisa dessa. Agora devo lhe dizer que os atuais governistas insistem em dizer que esse déficit ampliado é um rombo deixado pela presidente Dilma e isso não é verdade.
O que o governo faz agora é criar uma margem para gastar mais, porque houve uma queda na arrecadação, mas, por outro lado, o governo está incluindo uma série de gastos com obras, com ações do governo que eles querem ampliar. Mas é uma forma capciosa que isso está sendo apresentado à população. Isso é apresentado como um rombo ampliado do governo anterior, mas, na verdade, é um cheque em branco que eles estão querendo que se dê para eles gastarem mais. Usam o gasto ampliado para ver se reanima a economia. Eu votaria favoravelmente, eu digo nominalmente – não votei porque a votação foi por aclamação – porque eu não poderia contribuir para paralisar a máquina pública do Brasil
Política em Pernambuco. O senhor vai voltar, vai se debruçar na campanha lá?
Vamos estar totalmente engajados no processo da eleição municipal. Existem 76 pré-candidatos a prefeito do PTB e, se você incluir as legendas aliadas, estaremos acompanhando mais de 90 candidaturas no estado. Isso vai exigir nossa presença para que tenhamos fortalecido essa presença do partido e dessas forças que situam no nosso campo político.
Isso é muito necessário porque o que assiste hoje no estado é um quadro de desgoverno, de falta de rumo. Pernambuco está sem rumo, sem lideranças. Esse é o sentimento. Problemas todos os estados têm e, devo reconhecer que há uma crise econômica no país, mas o que se verifica hoje em Pernambuco é uma falta de comando, de presença do governo. Veja a escalada da criminalidade em Pernambuco, como o Pacto Pela Vida dá sinais de total esgotamento, o desaparelhamento da polícia, as dificuldades relacionadas com financiamento das atividades de segurança, as crises do sistema prisional e penitenciário, as mazelas de saúde, a ausência de profissionais nos postos e nas UPAs, a falta de medicamento de uso continuado, a dificuldade para se fazer as cirurgias eletivas e os problemas da UTIs. Há um quadro na saúde pública muito preocupante. E também a descontinuidade de obras. Algumas delas tiveram a total contrapartida de recursos federais e se arrastam porque o estado não tem condições de aportar os recursos. Sem deixar de dizer que, mesmo aumentando imposto, e o estado fez isso ao aumentar o ICMS em muitos produtos, ainda assim o que se verifica é que não tem recursos para financiar atividade essenciais.
Pernambuco precisa de oposição, de fiscalização. Não é oposição ao estado. Eu, por exemplo, no Senado, tenho obrigação de apoiar tudo que for de interesse do estado, mas é preciso que se fortaleça a presença fiscalizadora da oposição em Pernambuco, que deve cobrar as ações do governo, exigir que a ação governamental possa atender o interesse da população
Essa situação em que o estado chegou... O estado está numa situação difícil ou porque governador é incompetente?
Não gosto de fazer juízos pessoais. O que há é um desgaste muito acentuado da administração, que está evidente nas pesquisas que temos em todas as regiões de Pernambuco. O que que verifica é um déficit de liderança. É como se de repente o estado não tivesse um rumo claro
Ficou tonto depois da morte de Eduardo?
Acho que a presença, a dimensão, onipresença do ex-governador Eduardo Campos fez uma imensa falta a esse conjunto, ao sistema político no estado. O que se verifica é um vácuo, um vazio de lideranças e isso acarreta um preço. Por exemplo, a voz de Pernambuco no cenário nacional. As ambiguidades da própria posição assumida pelo partido a que pertence o govenador nesses episódios recentes do impeachment, e daquilo que se conformou com essa nova situação de poder no brasil.
Veja, por exemplo, que assistimos situações curiosas em que vetos foram feitos a figuras do próprio partido do governador. E tinha um político mineiro que dizia o seguinte: Veto só pode ser apresentado quando você tem certeza que vai prosperar, porque quando não prospera, é um desastre. Então ficou o registro do veto e o veto de nada adiantou. Faço esse registro menos para falar de pessoas e muito mais para traduzir um sentimento que está presente na população de Pernambuco, que é a constatação de que Pernambuco vive um momento de baixo astral, de falta confiança na liderança e isso nós temos que registrar.

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