Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Se fosse assim, FHC e Lula teriam ido para casa mais cedo.
Em
discurso na última sexta, a presidente Dilma Rousseff prometeu lutar
até o fim pelo mandato. "Para a saúde da democracia, nós temos de
defendê-la contra o golpe", afirmou. A plateia respondeu em coro: "Não
vai ter golpe!". Será?
Em
tese, o impeachment não pode ser chamado de golpe. O instrumento está
previsto em lei e na Constituição. Se o Congresso ameaçá-las, o Supremo
Tribunal Federal tem poderes para intervir. Os militares, felizmente,
estão quietos nos quartéis.
Apesar
de ter previsão legal, o impeachment pode não ser legítimo. Se as suas
razões forem inconsistentes ou inconfessáveis, ele se reduz a um atalho
para destituir governantes escolhidos pelo povo. Há fortes motivos para
acreditar que este é o caso do processo em debate na Câmara.
Embora
a oposição tente negar, a ação contra Dilma está tão contaminada por
Eduardo Cunha quanto o rio Doce pela lama da Samarco. Denunciado por
corrupção, o deputado usou o pedido para chantagear o governo e o
aceitou para adiar sua queda. Até aqui, deu certo. Ao detonar a bomba,
ele saiu do foco das atenções.
Além
do vício de origem, o impeachment nasce com base frágil. Até que se
demonstre o contrário, Dilma não praticou crime de responsabilidade. As
chamadas pedaladas fiscais são reprováveis, mas não justificam a
interrupção do mandato presidencial. Se fosse assim, FHC e Lula teriam
ido para casa mais cedo.
Em
países divididos como o Brasil pós-2014, a estabilidade da democracia
depende do comportamento dos derrotados. A oposição já atacou a urna
eletrônica, estimulou teorias conspiratórias e tentou diplomar Aécio
Neves no tapetão. Ao abraçar Cunha e seu impeachment duvidoso,
arrisca-se a fraturar um sistema político que já está desacreditado.
Não
há dúvida de que Dilma mentiu na campanha, montou uma equipe medíocre e
faz uma gestão abaixo da crítica. Nada disso, no entanto, justifica
cassá-la. Para trocar governantes ruins, o caminho é o voto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário