Texto de Jeferson Miola para o 247
"Matar mulher é feminicídio; matar presidente é magnicídio; matar criança é infanticídio; matar de vergonha é Delcídio".
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As gravações das conversas entre o Senador Delcídio do Amaral,
Bernardo Cerveró [filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró] e
Edson Ribeiro [advogado do ex-diretor], são reveladoras do quão
entranhável é a corrupção no estamento da política e dos negócios.
Se aquelas conversas fossem divulgadas sem a identificação dos
interlocutores, ninguém hesitaria em reconhecer se tratar de um bando de
bandidos reunidos para arquitetar crimes. Este fato é, em si mesmo,
estarrecedor e escandaloso. A cassação do mandato de senador e a
expulsão de Delcídio do PT serão os desdobramentos naturais.
Tão escabroso quanto este fato, entretanto, é a seletividade do
condomínio policial-jurídico-midiático de oposição, que recortou os
minutos convenientes da 1 hora e 35 minutos da gravação e desprezou os
trechos nos quais a quadrilha relembra a podridão e a roubalheira deles
na Petrobrás ainda no governo FHC.
Eles fizeram menção, por exemplo, à dinheirama depositada em bancos
suíços originada de propina que receberam da empresa Alstom em 2001 e
2002, quando Delcídio era diretor da Petrobrás e Cerveró seu gerente. E
também revelaram o nome do personagem que a décadas usa o lobista
Fernando Baiano como preposto: o espanhol Gregório Preciado, que é
casado com uma prima do senador tucano José Serra.
Qual o procedimento policial e judicial instalado para investigar
estes dois aspectos reveladores da gênese da corrupção na Petrobrás?
Resposta: - nenhum! Houve cobertura midiática demonstrando
jornalisticamente as conexões e os tentáculos tucanos na corrupção na
Petrobrás? Resposta: nenhuma!
A seletividade do condomínio policial-jurídico-midiático de oposição
tem sido uma norma de conduta. Os responsáveis pela Lava Jato na Polícia
Federal, no Ministério Público e no Judiciário simplesmente
desconsideram testemunhos, indícios e provas que implicam políticos
ligados ao PSDB e, além de não investigarem, arquivam as denúncias. E a
mídia oposicionista completa o serviço, acobertando a verdade inteira.
Foi assim com Pedro Barusco, o ex-gerente que confessou ter começado
sua prática delituosa na Petrobrás na década de 1990, durante o governo
FHC. Diante da confissão deste funcionário corrupto que devolveu 100
milhões de dólares roubados em 20 anos, qual a apuração da Lava Jato
sobre o período FHC? Resposta: - nenhuma!
Por uma estranha discricionariedade, o inquérito contra o senador
tucano Anastasia foi arquivado, e a investigação sobre os 10 milhões de
reais transferidos pelas empresas implicadas na Lava Jato ao PSDB na
gestão do ex-presidente do Partido, Sérgio Guerra [já falecido], nunca
prosperou. Qual a reação midiática a isso? Resposta: - nenhuma!
O chamado "mensalão" foi implacavelmente julgado para justiçar o
período dos governos do PT. Entretanto, como está a investigação do
"mensalão" mineiro, inventado pelo tucanato muitos anos antes? Resposta:
- paralisada, podendo prescrever, e os envolvidos estão "todos soltos".
A realidade não permite ilusões ou fanatismos alienantes: o Brasil
está enfrentando uma das maiores crises morais e políticas da sua
história. A corrupção é um fator desencadeante da corrosão moral que
aflige o país. O mais importante, porém, é que pela primeira vez tudo
está sendo investigado sem interferências do governo.
Esta conquista civilizatória do Brasil, de identificar e castigar a
corrupção, poderá ser anulada por manobras maniqueístas do condomínio
policial-jurídico-midiático de oposição, que recorta e seleciona a
narrativa a ser construída, que visa preservar o PSDB e aniquilar o PT.
Isso é contraproducente, porque dos mais de 100 indiciados na Lava Jato
até agora, apenas 4 são identificados com o PT, e a imensa maioria
pertence a outros partidos políticos.
Delcídio é um elo da corrupção histórica na Petrobrás; ele é o elo
entre o presente e o passado; o elo corrupto entre o período FHC e o
período Lula. Se, em razão disso, a Lava Jato não averiguar a raiz da
corrupção na empresa, será uma agressão à justiça e à democracia.
Mais além da Lava Jato, é necessário um esforço de recomposição ética
no Brasil, porque a corrupção está disseminada inclusive em práticas
"legais", ainda que imorais, em várias esferas da atividade pública nos
três Poderes.
Só moralismo não resolve. Menos ainda o falso e seletivo moralismo. É
necessário encarar esta crise de frente. O Brasil está num "mandrake
político", porque nenhuma força política se mostra crível como
alternativa na crise. O país está à beira do abismo político e moral que
ameaça produzir um forte estrago à economia nacional.
Este momento de impasse é, também, um momento de rediscussão de um
novo ordenamento jurídico-institucional. A atual lógica, em especial
quanto ao sistema político, é uma das causas da transição inconclusa da
ditadura para um Estado de bem-estar social. O PMDB, Partido
individualmente minoritário, domina a ciência de navegar neste sistema
obsoleto e fisiológico, é um dos principais fatores do atraso e do
retrocesso.
É urgente, por isso, se buscar o apoio da sociedade brasileira para a
convocação de uma Assembleia Constituinte autônoma e específica, que
discuta um novo ordenamento jurídico-institucional, começando pela
reforma política e pela democratização profunda do Estado.
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