Parece que essa montagem é de Alex Moreira. Ou não. |
O passado desnecessário
Os médicos brasileiros contrários à vinda de médicos estrangeiros para
atuar no interior desassistido ainda não perceberam que desejam modelar o
futuro com pedaços do passado de má memória até para eles.
Quando a crise social e econômica bateu aqui de verdade, muitos médicos
se foram em busca de alguma oportunidade nos Estados Unidos. Os
dentistas brasileiros descobriram Portugal. A propagação do conceito de
serem mais atualizados tecnicamente, à época, lotou seus consultórios
com a clientela portuguesa. E levou mais dentistas daqui.
Dos anos 1980 para os 1990, a batalha foi intensa e incessante, com
envolvimento diplomático, dos governos, médicos e dentistas, meios de
comunicação, entidades científicas de um lado e do outro. As relações
entre os dois países ficaram difíceis.
Os portugueses cobravam que os dentistas brasileiros se submetessem,
para validação dos seus diplomas, a exame baseado no currículo local. Os
brasileiros respondiam que o currículo português incluía, em detrimento
do maior domínio técnico, matérias médicas não adotadas no Brasil.
Atritos e impasse por mais de dez anos.
A recusa à vinda de médicos reproduz exatamente a posição dos
portugueses, à qual nenhum núcleo médico, odontológico, intelectual ou
outro deu apoio no Brasil. A diferença entre os fatos de lá e os de cá
está só nos motivos. Já foi dito que os médicos brasileiros defendem o
seu mercado, a tal reserva de mercado. Só os portugueses fizeram isso.
Os médicos daqui não querem saber do interior atrasado, não importa que mercado haja aí e que condições sejam oferecidas. Mesmo
as periferias das cidades são incapazes de atraí-los no número
necessário, como prova a procura para os hospitais e postos públicos. A
mera recusa à contratação de espanhóis, cubanos e portugueses despreza
ainda outra realidade inegável: a dos milhões deixados a sofrimentos que
até conhecimentos médicos elementares podem evitar ou atenuar.
Responder à proposta do governo com grosserias, como tem feito o
Conselho Federal de Medicina, não disfarça outra realidade. Médicos de
alta reputação e entidades científicas e de classe têm insistido na
adoção, para os recém-diplomados, de exame à maneira do que faz a OAB
para dar status de advogado aos bacharéis em direito. O pedido do exame é
o reconhecimento de que a proliferação de faculdades tem diplomado
levas de médicos com despreparo alarmante.
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