Do Portal Brasil247
A história é conhecida. Mais ou menos na mesma época, no início do ano passado, dois escândalos paralelos eclodiram.
Na
Inglaterra, foi descoberta a conexão entre um esquema de grampos
ilegais, que envolvia policiais e jornalistas do News of the World, de
Rupert Murdoch. Jornalistas e policiais foram presos e o jornal foi
extinto, não sem antes pedir desculpas ao público, em sua última edição.
Mais recentemente, a Inglaterra, um país de tradição libertária,
aprovou uma nova regulamentação para a mídia, que cria um órgão externo
para fiscalizar a atividade de jornais, revistas e demais meios de
comunicação.
No
Brasil, a Operação Monte Claro, da Polícia Federal, expôs as vísceras
da organização do bicheiro Carlos Cachoeira, que, antes desse episódio,
era chamado de 'empresário de jogos' pela revista Veja. Especializado em
todo tipo de interceptações, muitas vezes ilegais e clandestinas, o
grupo de Cachoeira possuía um braço forte nos meios de comunicação, cuja
peça mais forte era Policarpo Júnior da revista Veja. O desfecho aqui,
no entanto, foi bem diferente. Graças a um acordo entre veículos
conservadores de comunicação e o PMDB, Policarpo não foi convocado pela
CPI do caso Cachoeira. Embora o relatório tenha citado o nome de vários
jornalistas, nenhum foi indiciado, uma vez que o texto de Odair Cunha
(PT-MG) não foi nem sequer apreciado pela comissão.
Mas
Veja, no entanto, parece ter informações que a amedrontam. Na edição
desta semana, a revista aborda o caso do News of the World e diz que ele
será empregado no Brasil com fins torpes. 'A medida interrompe 300 anos
de liberdade de imprensa e vai ser aproveitada pelos liberticidas no
Brasil', diz o texto, numa reportagem interna. Mais do que isso, com
tremenda desfaçatez, o diretor de redação, Eurípedes Alcântara, também
aborda o caso no editorial 'Crime e Castigo', com imagem do News of the
World, como se Veja não tivesse nada a ver com a discussão. Diz
Eurípedes que a regulação prejudica a liberdade e que a função da
imprensa séria é 'de ser os olhos e ouvidos da nação na busca da verdade
e na vigilância constante sobre os poderosos'.
O
fato incontestável, no entanto, é que, em vários momentos, Veja foi
olhos e ouvidos de Cachoeira em defesa dos interesses privados do
próprio bicheiro, na sua relação de extorsão sobre os poderosos.
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