Do UOL
A pouco mais de um ano de ser a sede da Copa do Mundo, o Brasil ainda
passa por situações no futebol dignas de um país subdesenvolvido. Dois
jogadores do América-SE, clube modesto do interior do Sergipe, sofreram
com falta de comida na derrota por 3 a 0 para o Confiança pelo
campeonato local. Um chegou a desmaiar e outro passou mais de uma hora
sem atendimento médico.
“No final do jogo deu uma tontura, caí no campo e depois tentei sair.
Parei para dar entrevista, não queria falar o que estava acontecendo.
Mas não aguentei não. Senti tontura, forte dor de cabeça e acabei
falando que estava passando mal”, admitiu o zagueiro Thiago Arapiraca ao
UOL Esporte.
“O bombeiro veio e perguntou se eu tinha me alimentado. No primeiro momento menti, falei que tinha. Depois falei que tinha almoçado às 12h30 e só comemos biscoito recheado perto do jogo [às 20h]”.
Enquanto concedia entrevista ao UOL, Thiago contou que
era advertido pelos seus companheiros de equipe a não falar, pois eles
estavam com medo de uma retaliação da diretoria do América-SE, que
segundo relatos da Rádio Jornal sequer estava no estádio Lourival Batista para apoiar os atletas.
“Desde quando cheguei ao clube, vi que estava acontecendo isso. Sei que
pode prejudicar minha carreira [falar sobre o caso], mas tem que ver a
minha saúde né”, justificou o zagueiro, que diz ganhar “em dia” um
salário mínimo mensal do América-SE.
Thiago desmaiou no segundo tempo e foi prontamente atendido pela
ambulância que estava no local. Seu companheiro de equipe, o atacante
Murilo, passou por situação pior. Ele sentiu tontura quando a partida já
havia terminado, e não tinha ninguém para atendê-lo.
A ambulância só chegou ao estádio por volta de meia noite, duas horas
depois do final da partida. Enquanto isso, os atletas e profissionais de
imprensa que acompanharam o jogo se mobilizaram para ajudar Murilo com
água e comida. Quando o socorro médico chegou, o atacante foi
encaminhado para a ambulância sob gritos de "força" dos amigos. Ele
recebeu alimentação e logo depois foi liberado.
Ainda segundo a Rádio Jornal, muitos companheiros do atacante
choraram por causa da situação. Como o América-SE é situado na cidade de
Propiá, que fica a cerca de 1h30 de Aracaju, capital do Sergipe, o
ônibus da delegação só pôde deixar a cidade depois que ele foi
atendidos.
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