Aspirantes a ditador encastelados no Judiciário, no Legislativo, na
imprensa e até entre cidadãos comuns estão sobejamente indignados com
José Genoino Guimarães Neto, cearense de Quixeramobim que, aos 66 anos,
está prestes a cumprir pena de prisão por ter colocado a própria firma
em um contrato de empréstimo de um banco ao partido político que
presidia. A razão da indignação: ele teima em querer exercer seus
direitos.
Ainda assim, apesar de a vida do ex-presidente do PT ter sido
vasculhada de cima a baixo durante sete longos anos, não foi encontrado
um mísero aumento de seu patrimônio. Nem a Polícia Federal, nem o
Ministério Público e muito menos a imprensa conseguiram atribuir-lhe
qualquer intenção de se locupletar.
Tudo o que Genoino tem na vida é um modesto sobrado no bairro
paulistano do Butantã, que, vendido, não pagaria a multa imposta pelo
STF no âmbito da Ação Penal 470. Detalhe: o imóvel foi adquirido muito
antes de o PT chegar ao poder, não havendo como atribuir sua compra ao
“mensalão”.
Colunistas, editorialistas, articulistas, comentaristas de
telejornal, repórteres e parte de seus leitores e espectadores tratam
de atiçar a matilha despótica contra um homem cujo crime foi cumprir uma
obrigação partidária, ainda que possa ter havido alguma ilegalidade no
negócio feito entre seu partido e o banco que lhe concedeu o empréstimo
fatídico.
A condenação de Genoino, pois, não lhes é suficiente. Prender seu
corpo não basta, há que prender, também, seu espírito. Os mesmos
aspirantes a ditador querem cassar um direito sagrado em qualquer
democracia que se preze: o direito de um acusado pela Justiça se
declarar inocente independentemente de a acusação ter ou não sido
julgada.
Temos visto, à larga, os meios de comunicação serem tomados pela
premissa de que o ex-presidente do PT deveria assumir as culpas que lhe
imputam e abdicar de exercer seus direitos. Deveria se “envergonhar” e
fazer “profissão de fé” na própria culpa, ao melhor estilo daquilo a que
eram abrigados os expurgados pelo mesmo stalinismo de que os cúmplices e
entusiastas da ditadura militar brasileira acusam petistas e/ou
qualquer esquerdista.
Genoino e a filha estiveram no Congresso, altivos. Foram, então,
cercados e moralmente seviciados pelos que o prisioneiro de consciência
chamou, apropriadamente, de “torturadores modernos”.
Não basta, portanto, condenar Genoino ou qualquer outro réu do
mensalão. Eles têm que colaborar com seus algozes. A direita midiática
exige que se humilhem publicamente, abdiquem de qualquer direito que
lhes reste e, de quebra, ajudem a enlamear a honra de companheiros e até
do próprio partido. Querem estender suas condenações àqueles contra os
quais não pesa processo algum.
Este blog, assim, exorta seus leitores a se solidarizarem não com
Genoino, mas com o Estado de Direito, pois está sob severa ameaça quando
setores barulhentos e despóticos da sociedade exigem que um homem
abdique do direito fundamental de qualquer ser humano de se declarar
inocente independentemente de ter sido julgado e condenado, até porque a
História está repleta de condenações que depois se revelaram injustas.
Por Eduardo Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário