Por Fernando Castilho
Carlos Wizard é o exemplo clássico daquele sujeito que tem uma ideia brilhante, cria um negócio extraordinário, vende para uma multinacional e fica rico. Mas descobre que não sabe fazer outra coisa. Investe num monte de negócios diferentes até que volta ao ramo e descobre que deixou de ser protagonista para ser coadjuvante. E aí fica procurando ser ouvido usando o referencial do negócio que criou. Mas ninguém mais presta atenção nele.
Esse perfil pode explicar por que um bilionário decide aceitar um cargo de segundo escalão, num governo como o de Jair Bolsonaro, numa área que nunca teve qualquer interesse, mas que julga ser conhecer a partir do negócio que o tornou conhecido.
E, como sempre acontece, chega falando “com profunda autoridade” sobre um assunto que “rigorosamente” não conhece. Cai no ridículo.
A ideia do “futuro” secretário de C&T, do Ministério da Saúde, de revisitar os números de mortos da covid-19, o colocará no mesmo lugar que foi colocada a atriz Regina Duarte, e de tantos outros, que emprestaram seu belíssimo currículo na área em que fez sucesso e que acaba sendo marcado para o resto da vida pelo fracasso na nova empreitada.
Isso já atinge, inclusive, a carreira de oficiais brilhantes que veem sua imagem destruída ao associá-la ao governo. Virou uma marca no Governo Bolsonaro.
Mas o caso de Wizard promete sem mais interessante. Ele chega com uma dessas ideias risíveis que os técnicos do setor olham o novato, não acreditam e perguntam: “Como?”
Perguntam com aquele olhar irônico. Ou como diária o cantor, humorista e deputado federal Tiririca no seu celebre bordão: “Quem é cantor?”
A ideia de Wizard é recontar os mortos com a intenção de “investigar” quem, de fato, morreu de covid-19 e os que morreram de outras doenças. Bom, se o Ministério da Saúde fizer isso com a eficiência que Wizard tinham no controle de suas antigas escolas de inglês, vai descobrir o inverso:
O Brasil não apenas está subnotificando os mortos por covid-19 e o número de infectados. Mas não estamos nem contando quem, de fato, morreu da doença.
É que apenas alguns estados - Pernambuco no meio - estão fazendo um procedimento simples, mas que nos assegura mais eficiência: Quando o paciente entra na UTI, ou na enfermaria com sintomas mais grave, tem prioridade na testagem.
O procedimento assegura que, se falecer ou se recuperar, tem a certeza de que foi vítima da doença. Alias é o quem colocado Pernambuco na cabeça das estatísticas. Ao menos os pacientes graves se testam.
Se esse fosse o padrão em todos os estados brasileiros, os números de mortos estavam maiores pois o que hoje está registrado “embute” milhares de casos que foram classificados apenas como Síndrome Respiratória Aguda Grave SRAG, quando foram covid-19.
Tem mais: nos estados - com falta grave de testagem - centenas de pessoas estão sendo enterradas sem testagem com causas indeterminadas. É isso que está subnotificando o números de mortos não o contrário.
A proposta de Wizard é feito aquela ideia de Teich de querer testar todo mundo. Se tivesse conseguido especialmente com os exames RT PCR, os números estariam muito maiores.
Então, a menos que seja uma coisa deliberadamente desonesta para esconder mortos, a ideia de recontar os sepultamentos poderia ter a vantagem de ampliar, inclusive, nos cartórios de registro civil que terão um quadro mais próximo da realidade.
Imagine se o comportamento de Recife e São Paulo - que fazem o exames RT-RCR com todo paciente que precisar de internação passar a ser um padrão? Ou que isso seja aplicado em todas as UPAS e se puder identificar lá na ponta um portador de covid-19?
O mais curioso desse tipo de “ideia genial” para melhorar os relatórios do MS é que encontra guarida por quem está sendo saber o que fazer quadro exibido no Jornal Nacional?
O problema é que a desorganização do Ministério da Saúde está tão seria que até a contagem está sendo posta em dúvida. É uma planície e ideia malucas.
Ninguém está discutindo como fortalecer as ações que deram certo em algumas capitais, a revisão das que se mostram erradas. E não temos ações efetivas do ministério da Saúde mandando respiradores e suprimentos.
Se você olhar com mais atenção, o próprio currículo do general Pazzuello está erodindo. Quando ele foi para o MS, a sua missão era de que seus conhecimentos de logística resolvessem os gargalos na entrega de suprimentos.
Isso não aconteceu. E no ministério cheio de militares fardados, as pessoas já viram que os gargalos continuam. E o currículo do general Pazzuello hoje já e menor do que quando entrou. Ele pode receber a quarta estrala de general de exército, mas sua missão do MS não tem como ser de sucesso.
Então o que vai acontecer com Carlos Wizard é o que hoje já acontece no setor de educação de idiomas quando ele chega sempre com assessores. As pessoas olham, lembram dele vagamente, mas ninguém está interessado no que tem a dizer. Virou “o cara que foi”. Vai ser assim também no ministério da Saúde.
*Jornalista titular da coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio
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