Por Ayrton Maciel*
Adversário do isolamento social e das medidas restritivas de circulação dos governadores, tomadas para conter o Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro é o maior responsável pela rápida curva de ascensão da doença. Tentou desacreditar os governadores e liquidar suas medidas, no que não teve sucesso, mas fez o suficiente para confundir e dificultar a vida da população mais vulnerável, negando o perigo do vírus e jogando as pessoas nas ruas e nas filas para receber um auxílio financeiro cercado por obstáculos.
Fez ainda mais, desdenhando das pesquisas para satisfazer seu ego autoritário, ao buscar impor a cloroquina como tratamento padrão, remédio sem comprovação científica de eficácia para Covid-19. Depois de demitir dois ministros da Saúde, por estarem se guiando pela ciência, Bolsonaro tenta, agora, mais uma cartada para fazer valer a sua obsessão, obrigando o general Eduardo Pazuello - interino no ministério - a assinar um novo protocolo de tratamento na rede pública de saúde que inclui a cloroquina para todos.
O que o Brasil está assistindo, a partir do comportamento de Bolsonaro, e o que pode acontecer nas próximas semanas - com o controle da infecção - pode ser enquadrado como genocídio ou crime contra a humanidade. A indiferença, a negligência, a prevaricação - por tardar o socorro e se contrapor às medidas de contenção - e a desumanidade matam. Bolsonaro quer apenas que a economia rode, mesmo que sobre cadáveres.
Mas, por que Bolsonaro insiste na cloroquina? Porque sabe que, em um momento não distante, a pandemia vai chegar ao pico, resistirá, mas em seguida as taxas começarão a cair. O que quer Bolsonaro é propagar, recorrendo às suas redes sociais, que a contaminação e as mortes começaram a cair a partir do tratamento com cloroquina. Um embuste que as máquinas de fakenews tratarão de multiplicar.
O mal já está feito. Muitas vidas poderiam ter sido salvas se, nos últimos dois meses, o governo federal tivesse assumido um papel republicano e se aliado a governadores e prefeitos, com o Ministério da Saúde liderando um enfrentamento à pandemia, com ações articuladas, integradas e agregadas da União, Estados e municípios.
O que falta para Jair Bolsonaro ser denunciado às cortes internacionais? Às entidades de direitos humanos? Aos fóruns sociais mundiais? Ele e seus operadores do governo. Bolsonaro sabe que, na condição de presidente, as suas posições, decisões e omissões têm consequências legais e éticas, e efeitos na população. Esses lhe serão cobrados. Em Haia, em Genebra, em Nova York ou São José.
*Jornalista
Texto originalmente publicado no Blog de Magno Martins
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