Reinaldo Azevedo Colunista do UOL
Pronto!
O presidente Jair Bolsonaro já está livre do ministro Luiz Henrique Mandetta. Agora ele quer demitir outras pessoas: Rodrigo Maia, presidente da Câmara; João Doria, governador de São Paulo, e alguns ministros do Supremo.
Bem, vamos ver até quando a institucionalidade suporta isso.
O presidente diz dispor de dados de Inteligência segundo os quais essa articulação busca derrubá-lo.
Dados de Inteligência? Foram repassados pela Abin, que é subordinada ao general Augusto Heleno, chefe do GSI? A ser assim, o ministro teria de ser convocado pelo Senado para revelar o golpe em andamento. Seria uma convocação virtual, claro!
Então ficamos assim: ainda ontem à noite, depois de nomear o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, o presidente foi para a porta do Alvorada cometer crimes comum e de r esponsabilidade. Convocou os brasileiros às ruas, chamou de covardes os que ficam em isolamento social e incitou a população contra os governadores.
E tudo isso no dia em que demitiu o ministro da Saúde em meio à crise provocada pela pandemia. E não o demitiu por seus eventuais defeitos, mas em razão de suas qualidades.
E Bolsonaro acha que outros querem derrubá-lo.
Notem bem: ele acusa de conspiração um governador, ministros do Supremo e o presidente da Câmara; não dispõe, por óbvio, de prova nenhuma, atribui tal informação a uma investigação conduzida por um órgão de Estado. E pronto! Que fique tudo por isso mesmo.
Como ele não pode demitir nenhum dos supostos envolvidos, já sabemos qual é a palavra de ordem a mobilizar a sua súcia nas redes sociais. A coisa tem aquele chulé moral indisfarçável do tal "Gabinete do Ódio", comandado por Carlos Bolsonaro.
E AUGUSTO ARAS?
Augusto Aras, procurador-geral da República, vai, mais uma vez, se calar. Afinal, não é?, é tão corriqueiro que um presidente da República faça acusações dessa natureza...
Pensem nos desdobramentos: se a cúpula do Congresso e do Judiciário estão unidos para derrubá-lo, o que ele deveria fazer? Dar um golpe preventivo?
GUERRA DO ICMS
Em entrevista à CNN Brasil, soltou os cachorros contra Rodrigo Maia por causa da correta e prudente proposta de reposição do ICMS aprovada pela Câmara. Nada menos de 25 dos 27 governadores enviaram uma carta ao Senado endossando o texto. Já escrevi bastante a respeito.
Algumas falas do valente, referindo-se a Maia:
"Parece que a intenção é me tirar do governo. Quero crer que esteja equivocado":
"Se isso tudo for aprovado, e outras coisas virão pela forma como está se comportando, vão matar a galinha dos ovos de ouro, que é o Brasil";
"Isso que o senhor está fazendo não se faz com o nosso Brasil. Lamento, mas não se faz com o Brasil. Isso é falta de patriotismo, falta de um coração verde e amarelo, falta de humanismo com este país maravilhoso que se chama Brasil";
"Qual o objetivo do senhor Rodrigo Maia? Resolver o problema ou atacar o presidente da República? O sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas. Ele quer atacar o governo federal, enfiar a faca";
"Não temos como pagar uma dívida monstruosa que está aí, não temos recurso. Qual a intenção? É esculhambar a economia para enfraquecer o governo para que eles possam voltar em 2022?"
ELES QUEM?
A que "eles" se refere Jair Bolsonaro? Como se nota, a sua preocupação é eleitoral, a exemplo de sua atuação desastrosa no caso do coronavírus. Não fosse Maia, reitero, o governo estaria catatônico até agora. Foi o presidente da Câmara que deu viabilidade à PEC do Orçamento Paralelo, à PEC da Guerra, que dá condições operacionais a um governo que estava na lona, aturdido, perplexo, batendo cabeça.
Maia respondeu muitos tons abaixo da histeria de Bolsonaro, que parece ter decidido arrumar um inimigo novo para minimizar o desgaste com a demissão de Mandetta. Disse:
"Independente de questões políticas, nunca deixei de dialogar com quadros técnicos de ninguém. Agora, também não podemos aceitar que apenas uma visão de Brasil sobre a crise prevaleça. O que prevalece é o diálogo. Não há nenhuma intenção da Câmara de prejudicar o governo, de enfrentar o governo. Queremos sentar na mesa com urgência com pautas preestabelecidas. O presidente não vai ter de mim ataques. Ele pode atacar. Ele joga pedra, e o Parlamento vai jogar flores para o governo federal."
É a melhor resposta que pode dar o presidente da Câmara enquanto estivermos todos ilhados.
BOLSONARO SE TRAI
Bolsonaro e Paulo Guedes querem dar a mixaria de R$ 22 bilhões aos Estados a título de compensação do ICMS. Sabem que isso se parece mais com uma piada trágica do que com uma compensação. Tendo um cheque em branco para gastar, os valentes preveem que o socorro a empresas aéreas e de energia vai custar R$ 48 bilhões, mas pretendem compensar 27 Estados com menos da metade. Não pode ser sério.
Ao falar, no entanto, em eleições, Bolsonaro revela a natureza do jogo. Ele quer os Estados quebrados, de pires na mão, para se transformar na única referência em meio ao caos. É isso! Quer ser o rei do caos.
FIM DA LINHA
Querem que eu diga o quê? Um presidente que acusa os outros dois Poderes de conspiração ou está perto de dar um autogolpe ou está caminhando para o abismo.
Se acredito na possibilidade de autogolpe? Responda você, leitor: se fosse da cúpula das Forças Armadas, aceitaria ser liderado por Bolsonaro numa quartelada? Bateria continência para Carlucho?
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