FERNANDO BRITO · no Tiolaço
As ditas “instituições” estão sendo colocadas ante um impasse.
A “nova direita”, medíocre, fundamentalista e violenta recusa qualquer solução de composição e disputa democrática.
Os pedidos de “prisão preventiva” de Lula e a tentativa de emendar, no tranco, a Constituição para que ele possa ser novamente preso deixam tragicamente claro que, paradoxalmente, nem é mais o líder petista o grande “inimigo”, agora.
O adversário a ser vencido é o sistema de freios e contrapesos próprio das democracias.
Congresso e Judiciário devem render-se, acovardados, ao que dizem ser “a voz das ruas”, ainda que as vozes sejam apenas as dos grupos histéricos e minguantes que encontraram na Lava Jato seu partido político.
Seu programa para o país não vai além de prender, de encarcerar e, afinal, não se pode dizer que não seja um sucesso de dimensões continentais, pois se tornou uma regra em toda a América do Sul: Argentina, Peru, Colômbia, Paraguai, em tempos e escalas diferentes adotaram o mesmo desvario.
Que encontrou corolário no golpe boliviano, onde sequer se aceitou uma nova eleição, sob supervisão internacional e ressuscitou-se a fórmula velha de 40 anos de um golpe, já nem militar, como se está percebendo, mas policial e que vai acabar entronizando um fanático no comando do país.
Por nossas bandas, chegamos ao impensável exercício de um poder familiar, onde a trinca de filhos presidenciais manda e desmanda, tumultuando o Congresso, acocorando o Judiciário e substituindo-se à Polícia, num caso e noutro apagando os rastros de sua delinquência.
O ministro da Justiça, que ascendeu usando a Justiça, vira garoto propaganda para, agora, mudar a lei ao sabor de suas vontades autoritárias.
A grande mídia, espancada, chutada e cuspida, finge escandalizar-se mas, ao fim e ao cabo, aceita que tudo seja feito para evitar o “mal maior” que representaria o livre alinhamento das forças políticas a suas lideranças naturais.
Congresso e Judiciário não se afirmarão se não puserem, agora que têm a chance, fim a esta escalada, enquanto as ameaças não têm mais que a força de bravatas.
Concessões covardes, como a de Dias Tóffoli ao sugerir a mudança na lei, um escárnio por tratar-se de cláusula constitucional pétrea, só trazem mais crise e usurpação.
O mesmo será se a chance de podar os delírios de poder que usam como ícone o Sr. Sérgio Moro não forem detidos no julgamento de sua mais que evidente suspeição.
Do contrário, não é a esquerda, não são os movimentos sociais, nem é a racionalidade que serão lançadas às trevas.
Todos o serão, sem distinção, inclusive Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e os ministros que ousarem dissentir da histeria punitiva.
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