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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Os mortos também falam

Publicado originalmente no Blog de Magno Martins
Por Gilberto Marques*
O estudo do corpo, post mortem, é coisa antiga. Leonardo da Vinci, além de ter pintado Mona Lisa, pintou o sete nas suas pesquisas, nos seus inventos. No tempo das flechas inventou a metralhadora, canhão e catapulta foram reinventados. Junto de outros inúmeros apetrechos, bélicos ou não.
No entanto, o que mais chama atenção, a maior descoberta veio dos cemitérios. Como nem todos os cadáveres passavam pela fogueira a exumação virou realidade. Removia os corpos e cuidadosamente, no interior do esconderijo, analisava a anatomia humana. Homens, mulheres, crianças eram estudados de per si. Evoluiu, por certo, em gordos e magros. Observou as lesões internas, espontânea ou não. As equimoses, os hematomas, as feridas de fora para dentro. Sem Leonardo o olhar triste de Mona, não teria razão. 
Muito menos os tratamentos que surgiram nos riscos do suposto vilipêndio. No tempo da inquisição, dos tribunais eclesiásticos, da fogueira de Joana D’arc quem teria tanta coragem? Um poeta apaixonado pelos humanos. Antecipou a 3ª dimensão no chamado homem VITRUVIANO. No entanto, não conseguiu inventar a paz... 
Hoje, o estudo do corpo, vivo ou morto, tem o concurso das engenhocas eletrônicas. A identificação do DNA, tomografia e seus computadores. Mesmo assim, há fórmulas que dissimulam a verdade. Escondem o maléfico. Protegem os malfeitores e os malfeitos.
Recentemente, as Comissões da Verdade exumaram cadáveres, inclusive os insepultos, dentro e fora da história. Os atores da saga tremeram na base ou correram para a democracia da morte. A morte é democrática. Vale pra todo mundo, inclusive para os suicidas.
Esta semana, o presidente Bolsonaro arranjou uma refrega com a OAB do Brasil. No exagero convidou o presidente Felipe Santa Cruz para ter uma conversa com ele sobre a morte e o motivo do homicídio do pai. O presidente da OAB nacional e outros ex-presidentes levaram a conversa para o STF. Disse que a Comissão da Verdade era “balela”, enquanto cortava os cabelos à moda antiga, 1940. Afirmou que uma turma conversara com ele na época do sequestro de Fernando Santa Cruz e mais outras coisitas. O pai de Felipe foi sequestrado em 23 de fevereiro de 1974, junto com Eduardo Collier. Ambos sumiram para sempre.
Jair Messias Bolsonaro nasceu em 25 de março de 1955. Portanto, tinha menos de 19 anos naquele carnaval. Com tenra idade, por certo imberbe, não teria acesso aos segredos da Ditadura. Mesmo sendo da Escola Militar, tecnicamente, era apenas  “um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes. E vindo do interior”. Belchior morreu em Santa Cruz do Sul-RS. Talvez não seja mera coincidência.
*Advogado criminalista

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