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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

No caso Bebianno, a mentira é o que menos importa

Bernardo Mello Franco – O Globo
Na versão oficial, o novo governo terá a primeira baixa por causa de uma mentira. O vereador Carlos Bolsonaro acusou o ministro Gustavo Bebianno de relatar conversas inexistentes com o pai. “Mentira absoluta”, tuitou o Zero Dois. O presidente apoiou o filho e reforçou a fritura do auxiliar.

O tiroteio verbal agravou a crise, mas desviou o foco de sua origem. Bebianno está na berlinda porque comandava o PSL quando o partido que prometeu limpar a política declarou gastos com candidatos fantasmas. A família do presidente culpa o ministro pelo laranjal. Ele ameaça espremer o chefe depois que virar suco.
Como os repasses saíram do fundo eleitoral, o conflito de versões é o que menos importa. O essencial é saber quem embolsou o dinheiro público. E o que Bebianno está disposto a revelar sobre a “campanha mais pobre da história do Brasil”, nas palavras do presidente.
Se a mentira virasse critério de corte, sobraria pouca gente no governo. Na última semana, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu que Chico Mendes era grileiro de terras. O ambientalista lutou pela floresta amazônica e foi assassinado a mando de um fazendeiro. Salles foi condenado por improbidade administrativa, acusado de fraudar mapas para favorecer uma mineradora.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, já virou folclore pelas cascatas em série. Antes de assumir o cargo, ela inventou que hotéis-fazendas incentivam a zoofilia e que os holandeses ensinam bebês a se masturbar. Em sua última contribuição ao anedotário, incentivou todos os pais de meninas a fugirem do país.
Os delírios da pastora sugerem que ela habita um mundo à parte, onde o fundamentalismo borra as linhas que separam realidade e ficção. O chanceler Ernesto Araújo parece orbitar o mesmo planeta quando nega as mudanças climáticas e promete libertar o Itamaraty do “marxismo cultural”.
Bolsonaro também tem uma relação conflituosa com os fatos. Na campanha, ele espalhou informações falsas sobre o voto eletrônico, a distribuição de livros escolares e a sua própria produção legislativa, entre outros temas. Em janeiro, foi a Davos e disse que o Brasil é “o país que mais preserva o meio ambiente”. Três dias depois, o mundo se chocou com as imagens de Brumadinho.
A exemplo de Donald Trump, de quem é fã, o presidente reage a cada desmentido acusando a imprensa de difundir “fake news”. No fim de 2018, o jornal “The Washington Post” atualizou a contagem das declarações falsas do republicano, um farsante contumaz. Concluiu que ele contou mais de 5.600 mentiras no ano. Uma média superior a 15 embustes por dia.

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