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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A Venezuela a caminho da guerra civil. E da intervenção estrangeira



POR FERNANDO BRITO · no Tijolaço


São cada vez mais apavorantes os sinais de que haverá conflito armado na vizinha Venezuela.

Não que a crise seja nova, pois desde 2002, quando parte da oficialidade, a federação das indústrias local e sindicatos da elite da companhia de petróleo venezuelana se uniram para derrubar e prender Hugo Chávez – libertado também por uma aliança de manifestações populares e uma contra-insurgência da Forças Armadas – a oposição e os governos chavistas não conseguem ter um convívio minimamente democrático e institucional.

Há alguns anos, porém, a situação se agravou, porque a comunidade latinoamericana, que sempre trabalhara para a pacificação do país deixou de lado qualquer sinal de equilíbrio e se juntou abertamente aos grupos oposicionistas, insuflada, já sem a menor discrição, pelos Estados Unidos, certamente “sem nenhum interesse” no fato de serem ali as maiores reservas de petróleo do mundo, superando até as da Arábia Saudita.

Aparentemente, além do apoio do ainda forte chavismo, que também se expressou hoje em manifestações pouco ou nada mostradas pela mídia, Nicolás Maduro tem suporte em grande parte das Forças Armadas. Ao menos ao que se deduza do noticiário, não parecem ser grandes que a oposição possa chegar ao poder por um “pronunciamiento” militar.

A intervenção estrangeira, porém, já é total na esfera política – seu ápice, hoje, é o reconhecimento por Donald Trump de um autodeclarado governo da oposição, que não detém o controle do país – tende para evoluir para a militar, às medida em que surjam os conflitos armados naquele país, com a montagem – possivelmente pela Organização dos Estados Americanos, a OEA – de uma “Força Internacional de Paz”, sob o pretexto de fornecer ajuda humanitária.

O que vai se passar por lá depende do que resta de força política ao Governo Maduro, isolado desde a morte de Hugo Chávez e mais ainda pela ascensão das forças de direita no continente. Se não a tiver, dificilmente manterá a sustentação militar.

Mas se a mantiver, como se depreende das declarações de fidelidade à Constituição dos chefes militares do país, não será um “passeio” uma intervenção militar estrangeira, dada a capacidade que têm sua força armada. A Colômbia, que proporcionalmente possui as maiores forças armadas do continente (e um Exército muito bem armado, graças ao Plan Colômbia, programa norte-americano alegadamente de combate ao narcotráfico) reluta em uma ação direta, sob o comando do Presidente Ivan Duque, enquanto a figura política mais proeminente do país, o ex-presidente Alvaro Uribe é francamente a favor de uma ação militar.

Os militares brasileiros também não parecem muito dispostos a embarcar numa aventura, caso haja resistência. Chegar até as zonas mais povoadas da Venezuela exige atravessar centenas de quilômetros de selva montanhosa. Por ar, nem pensar, caso a aviação venezuelana, com seus aviões russos e chineses, esteja operacional. Seria uma insanidade, eles sabem.

Restaria uma ação aeronaval irresistível dos EUA, sem dúvida capaz de “quebrar” uma eventual resistência armada. Que, sejamos claros, só tem como obstáculo o desastre político que traria.

Não creio que as coisas cheguem a este ponto, apesar da insânia reinante.

De qualquer forma, o Brasil perdeu a oportunidade de liderar a busca de uma transição pacífica de regime, sem o esmagamento de qualquer uma das forças. Será a quebra de uma tradição de décadas, que mantivemos na crise do Suriname, nas guerras de descolonização de Angola e na Guerra das Malvinas.

Espera-se, no mínimo, que não se embarque numa aventura intervencionista, ainda mais para encobrir uma crise interna de credibilidade. O mínimo, repita-se, porque esperar sanidade da diplomacia brasileira a esta altura é impossível.

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