Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Não é fácil a vida do presidenciável Geraldo Alckmin. Ele começou o ano eleitoral em quarto lugar nas pesquisas, com apenas 7% das intenções de voto. Não conseguiu fechar alianças e ainda enfrenta um adversário no PSDB: o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.
Fundador do partido, ele se recusa a abrir mão da pré-candidatura ao Planalto. Acusa o governador paulista de boicotá-lo e cobra a realização de prévias. Aos 72 anos, o ex-senador diz ser o único capaz de evitar uma nova derrota dos tucanos.
"Geraldo é um candidato sem pegada, sem posições definidas. No ritmo em que ele vai, o PSDB ficará fora do segundo turno", prevê Virgílio. "Olho para a direção do partido e vejo todo mundo feliz, a caminho da quinta derrota consecutiva. Parece que eles jogam para perder", critica.
O prefeito diz que Alckmin já teve sua chance em 2006, quando foi derrotado pelo ex-presidente Lula. "Ele teve menos votos no segundo turno do que no primeiro", lembra. "Para provar que não ia privatizar os Correios, ainda se fantasiou de carteiro. Aquela cena me deixou agoniado."
Para se diferenciar do governador, Virgílio diz ter opiniões mais firmes em temas que dividem o eleitorado. Promete privatizar quase todas as estatais e se diz liberal "na economia e nos costumes". Defende a liberação do aborto, a legalização da maconha e o casamento homoafetivo.
"Não dá para um candidato ficar repetindo evasivas e generalidades", provoca, em outra indireta contra o estilo "picolé de chuchu" do rival.
Em tom de cobrança, o prefeito diz que o PSDB já perdeu muito tempo. Ele afirma que os adversários estão fora do partido. "Já podíamos ter desmontado o Bolsonaro, que é uma figura grotesca, e botado o Lula no gueto em que ele precisa ficar."
Fiel ao estilo guerrilheiro, Virgílio também desdenha do aceno do presidente Michel Temer a Alckmin: "Eu não me sentiria à vontade com o apoio dele. Acho que não devemos nos aliar ao PMDB, com ou sem P".