O general Hamílton Mourão, depois de uns dias calado, voltou a fazer declarações que, não vivêssemos quase de exceção e uma abulia quase total na política, seriam suficientes para colocar o Congresso em polvorosa.
“A Constituição engessa o país”, disse ele em entrevista ao Valor, , deixando claro que se pretende acabar com as vinculações que tornam obrigatória a aplicação de recursos em setores socialmente essenciais, como Saúde e Educação:
“Essa desvinculação teria que ser feita por emenda constitucional, porque a Constituição diz que tanto vai pra saúde, outro tanto para a educação. A Constituição foi feita na saída do que foi o período militar, quando várias corporações estavam batalhando um naco. Então se colocou coisa demais na Constituição. A Constituição da forma como está engessa o país”.
O objetivo seria fazer o “desmanche do Estado”, como se este fosse uma lata velha inservível e nefasta:
Temos muito para fazer, na realidade, pra desfazer. Um desmanche, se fizer um desmanche. Eu já fiz essa comparação, eu gosto de cavalo, gosto de montar, já disse que Brasil é um cavalo olímpico capaz de saltar 1m80, mas tá todo amarrado, só salta 0,70 cm [sic]. O Paulo Guedes falou, tem que tirar as bolas de ferro do pé dos industriais.
Mas quem irá fazer este descarne da Carta Magna? O parlamento?
“Você tem ali – como em qualquer grupo social – tem 30% que são realmente esclarecidos, tem 40% que é a ‘meiuca’ que vai pra onde sopra o vento, e mais 30% que não sabe nem onde é a “curva do A”.
Nas contas de Mourão, a legalidade deste “desengessamento”, promovido pelo “vento” sobre um Congresso onde 70% não tem opinião própria e diz que será julgado por outro colegiado de néscios, o Supremo Tribunal Federal, onde:
” [Vamos] Sentar um dia com os 11 ministros e expor para eles a situação do país. Acho que eles não conhecem. Sou favorável a que o presidente vá lá um dia e explique que se os senhores aprovam medidas dessa natureza, vamos cada vez mais nos encalacrar. Levaria o ministro da economia a tiracolo.”
Não se sabe se iriam também “um cabo e um soldado”, não é verdade?
Mourão avança sobre o “Posto Ipiranga” e diz que o novo governo não vai “começar na base de impactos e pacotes”, o que não quer dizer absolutamente nada, até porque em 60 anos de vida nunca vi “pacotes” com aviso prévio e está na cara que Bolsonaro precisa, senão deles, pelo menos de impactos. Ou estes ficarão por conta apenas de Sérgio Moro e seus delegados de polícia?
O general do Jaburu não demonstra nenhum pudor em avançar na pretensão de ter uma autoridade que não possui, constitucionalmente, e diz até que montou o seu “ministério” próprio: um “dream team” de oito assessores anônimos pronto para “trabalhar em qualquer assunto temático”.
“Eu montei uma equipe multidisciplinar capaz de oferecer soluções caso seja necessário”.
O Acordo [Climático] de Paris, por exemplo, seria uma destas necessidades e certamente o general daria ordens expressas para que a temperatura não ultrapasse a linha demarcada, usando de seus conhecimentos meteorológicos, isso que o providencial Olavo de Carvalho não resolver tudo com seus saberes astrológicos.
Não se sabe se, a quatro dias da posse e murcho de Fabrício, o ex-capitão-presidente reagirá ao arreganho do general-vice.
Mas bem que se podia aproveitar com Mourão os dizeres da camiseta que a primeira-dama Michelle usou com a pessoa errada: “Se começar falando neste tom, nós vamos ter problemas”.
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