Entre os 18.500 profissionais do “Mais Médicos”, quase a metade é de cubanos: 8.500.
São quase o dobro dos 4.700 brasileiros que buscaram vagas para trabalhar, pela simples razão de que não aparecem médicos brasileiros em quantidade para suprir as vagas, nas quais têm prioridade.
São os cubanos que estão nos lugares mais remotos, mais pobres, muitas vezes pequenas aldeias.
Em cinco anos, fizeram 113 milhões de atendimentos gratuitos, pelo SUS.
A tão alegada “incapacidade profissional”, em tantos procedimentos, jamais levou a um caso escandaloso de mau atendimento, e olhe que eles trabalham sob lupa: qualquer imperícia grave que cometam iria parar nas páginas de jornal.
Como foram os casos de médicos que “desertaram” do programa e que, em seguida, mostraram que queriam mesmo era uma oportunidade de ir para os Estados Unidos, patrocinados por organizações que estimulam a fuga de profissionais de Cuba.
Os cubanos têm contrato com seu governo e este, por sua vez, com a Organização Panamericana de Saúde, que “pilota” o contrato com o Brasil. Recebem uma parte lá, outra aqui.
O governo cubano, é evidente, “vende” serviços de saúde como fonte de receitas para o país. Exatamente como fazem os planos de saúde privados como empresas: pagam aos médicos muito menos do que recebem do cliente pelo atendimento.
Este é um problema deles com seus médicos e, sob a lei brasileira, o Supremo Tribunal Federal decidiu em 2017, já no Governo Temer, pela legalidade dos contratos .
O nosso problema é não ter, salvo pelos os cubanos, um número significativo de médicos dispostos a atender em locais pobres e remotos.
O que aconteceu não foi um “rompimento unilateral” de Cuba com o programa, mas uma grosseira provocação do governo Brasileiro, anunciando que exigia mudanças nos termos do acordo.
Cuba não é obrigada a fornecer médicos ao Brasil. Era o Brasil que, do ponto de vista social, estava fazendo um ótimo negócio.
É só conferir a imensa quantidade de reportagens e relatos sobre os avanços obtidos na Saúde Pública feitos pela imprensa internacional, como a Deutsche Welle, no interior de Sergipe.
É penosa a situação destes profissionais, como o médico Juan Melquiades Delgado, que ficou conhecido por ser vaiado e chamado de escravo por médicas brasileiras, ao chegar ao Ceará e hoje atende a população de Zé Doca, a 300 km de São Luiz (MA). Ele casou com um brasileira e pretendia voltar com ela a seu país em pouco mais de um ano. Mas ele é tão “escravo” que já disse que volta a Cuba.
Quem está colocando a ideologia à frente da saúde pública é o futuro governo brasileiro. Se Cuba estivesse indiferente não teria renovado o convênio com o Governo Temer, com quem tem as piores relações diplomáticas.
O mínimo que se poderia exigir seria um período de transição, longo, até que se suprissem as carências de médicos naqueles locais. Mas Bolsonaro “chutou o balde” e voltou a fazê-lo há pouco, numa entrevista coletiva.
Não dá a menor importância a perdermos, todo ano, mais de 20 milhões de consultas médicas pelo SUS, com a saída dos cubanos.
Os pobres, os desassistidos, os miseráveis que adoeçam e morram.
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