A vida, essa que nos dá, todos os dias, tristezas e sofrimentos, para os quais basta sair à rua e ver o estado de abandono no nosso povo, também nos dá momentos de intensa grandeza de emoções, quando vemos a história se desenhando ante nossos olhos e temos lucidez para percebê-lo.
A leitura da carta de Lula, hoje, foi um destes momentos.
Digam os bobos e novatos no ofício que foi uma peça de propaganda, porque não foi, até pelo tamanho, que qualquer publicitário teria reduzido a um quinto ou menos.
Não, e não foi também um lamento com a injustiça contra um homem.
Foi o grito contra a injustiça contra um povo e seus anseios de uma vida digna:
Eles não querem prender e interditar apenas o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Querem prender e interditar o projeto de Brasil que a maioria aprovou em quatro eleições consecutivas.
Grito calado à força, amordaçado, mas nem por isso menos audível pelas palavras escritas com indignação:
Nunca aceitei a injustiça nem vou aceitar. Há mais de 40 anos ando junto com o povo, defendendo a igualdade e a transformação do Brasil num país melhor e mais justo. E foi andando pelo nosso país que vi de perto o sofrimento queimando na alma e a esperança brilhando de novo nos olhos da nossa gente.
Sim, é assim que se constrói o sentimento de causa, de missão, que vai muito além da ideologia que se consegue em livros, na razão pura, nos ambientes intelectuais.
E se constrói, também, o saber quase mágico de entender e sentir seu povo, mesmo apartado dele, seja pelos palácios, seja por uma cela de prisão.
Povo que só cobra uma promessa, a maior de todas, que só poucos podem fazer: a entrega, total e absoluta, a este pertencer-se mútuo:
Vocês me conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar.(…)
Talvez nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as pesquisas de intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se aceitasse abrir mão da minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha dignidade pela minha liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo brasileiro.
Este compromisso nada pode abalar: nem a prisão, nem as mentiras, nem as humilhações que, a rigor, só abate aos que vergam sua alma e sua coluna. “E o duro combate, se aos fracos abate, aos fortes, aos bravos, só faz exaltar”, cantava Gonçalves Dias em seu Y Juca Pirama.
Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo mundo pela voz do povo, mais alta e mais forte que as mentiras da Globo.
Lula teve de fazer hoje, como Getúlio, o suicídio de seu direito de candidatar-se, amarrado, vetado e aprisionado pelos senhores de toga que não se envergonham de usar a Justiça para promover a injustiça, a privação de liberdades. Mais que as de Lula, a liberdade de escolha do povo brasileiro:
Fui incluído artificialmente na Lei da Ficha Limpa para ser arbitrariamente arrancado da disputa eleitoral, mas não deixarei que façam disto pretexto para aprisionar o futuro do Brasil.(…)
Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados.
E então, cumpre seu papel de líder, que aponta o caminho e dá o seu nome como bandeira de luta:
Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é Haddad.
Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros.
Neste país de políticos canalhas, de elites que sofrem de um nanismo intelectual e moral que lhes faz acusar o “povinho” maltratado pelas mazelas o país, que arrota seu mérito, mas não teve a capacidade de transformar esta terra imensa e rica num país com um mínimo de justiça e de perspectivas, é dramático que se cale, se prenda e se puna alguém por ter sido alguém capaz de presidir um país inteiro e não apenas o perpetuador de um sistema de castas.
Vivemos um momento de drama nacional. Que exige que cada um de nós esteja à altura da hora decisiva que vivemos.
Só os micróbios mentais, os medrosos, os vacilantes não o percebem.
Se o povo brasileiro vencer, nada será como antes.
Se não estivermos, por medo ou vacilação, à altura de nosso papel, como Lula está sendo, tudo será, por muito tempo, como sempre foi.
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