Em visita ao Rio de Janeiro, Michel Temer disse estar “satisfeitíssimo” com os resultados “extraordinários” obtidos após a intervenção federal na segurança pública do Estado. As declarações do presidente não encontram amparo na realidade.
Temer voou para o Rio uma semana depois da carraspana que o comandante do Exército passou nos políticos que gravitam na órbita da intervenção. Seis meses depois do decreto assinado por Temer, disse o general Eduardo Villas Bôas, “o componente militar é, aparentemente, o único a engajar-se na missão''. Dias antes, três soldados haviam morrido em tiroteio no Complexo do Alemão.
Sob os efeitos do pito do general, Temer reconheceu indiretamente que a ação no Rio foi projetada em cima do joelho. O reconhecimento veio embutido na declaração em que o presidente enfatizou que, em um semestre de intervenção, houve apenas “três ou quatro meses” de ações concretas nas ruas. “Os índices de combate à criminalidade são extraordinários”, disse.
Em fevereiro, quando decidiu colocar em prática a “jogada de mestre” da intervenção, Temer invadiu os lares dos brasileiros para assegurar, num pronunciamento em rede nacional: “…Derrotaremos aqueles que sequestram a tranquilidade do povo em nossas cidades. Nossos presídios não serão mais escritórios de bandidos, nem nossas praças continuarão a ser salões de festa do crime organizado.” (reveja o pronunciamento de Temer no rodapé)
Ainda que sejam levados em conta avanços pontuais em estatísticas de roubo e de latrocínios, não há no Rio ou em qualquer outro pedaço do mapa brasileiro nada que possa levar à conclusão de que a bandidagem foi derrotada ou de que o Estado prevaleceu sobre as facções criminosas no interior dos presídios. Não há tampouco vestígio de sensação de segurança nas praças.
Um presidente que promete corrigir em seis meses distorções seculares é um tolo. E um presidente tolo que se dispõe a ofender a realidade sem se dar conta de que flerta com o ridículo está no mundo da Lua ou numa roda de cínicos. Em nenhuma das duas hipóteses, será uma autoridade que mereça atenção.
A essa altura, a única informação relevante relacionada a Temer é a seguinte: faltam 123 dias para o atual inquilino do Palácio do Planalto voltar para casa —ou para outro local menos acolhedor.
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