Rudolfo Lago – Blog Os Divergentes
Com os sinais provavelmente invertidos, os dilemas do PSDB quanto a permanecer ou não apoiando o governo Michel Temer lembram o episódio no qual os tucanos discutiram se deveriam entrar ou não no governo Fernando Collor, antes do irmão do presidente, Pedro Collor, dar uma entrevista ao jornalista Luís Costa Pinto, então na revista Veja, e detonar um dos maiores escândalos da história política brasileira, o caso PC Farias.
Esse foi um dos episódios que reforçou a história de que o PSDB é um partido eternamente no muro, com uma dificuldade imensa em determinar com clareza de que lado estará e o que irá fazer. O ex-governador de São Paulo Orestes Quercia costumava dizer que um tucano, caso entrasse num banheiro com dois mictórios, faria pipi na calça diante da incapacidade de decidir por qual optaria.
Com seu governo em crise, Collor pretendeu aposentar a República de Alagoas, como se apelidou o grupo de desconhecidos amigos que inicialmente ele levou para o governo, e montar o que se chamou de “Ministério de Notáveis”, numa tentativa de obter mais apoio e aval político. Nesse sentido, era então importante para ele tentar atrair o PSDB. Então, o partido era ainda o produto de uma dissidência no antigo PMDB, que saíra da legenda de Ulysses por discordar dos rumos distorcidos que ela tomou, inchando, agigantando-se e descaracterizando-se depois de ter chegado ao poder no governo José Sarney.
Os tucanos discutiam a hipótese de adesão de forma envergonhada com Collor. Um dos “notáveis”, Jarbas Passarinho, que era então ministro da Justiça, contava de uma reunião que teve com o então senador Fernando Henrique Cardoso. Como queria manter a conversa em sigilo, Fernando Henrique propôs que ela acontecesse na casa de Passarinho, no Lago Norte. Mas os jornalistas descobriram a reunião e foram para a porta da casa do ex-ministro. Como Fernando Henrique não queria de jeito nenhum aparecer, Passarinho negou que ele estivesse dentro da sua casa. E ele contava que Fernando Henrique ficou lá dentro esperando até o final da noite, até que o último repórter se cansasse e desistisse, para sair.
Na época, o ex-governador Mario Covas foi o personagem definidor para que o PSDB recusasse o convite para entrar no governo Collor. Numa tensa reunião que durou horas numa sala do Senado, ele repetia que era um absurdo o partido emprestar o aval que tinha a um governo contestado e desgastado. E que o partido pagaria o resto da vida caso tomasse uma decisão errada. O PSDB não aderiu a Collor e, algum tempo depois, ele é que deixava o Palácio do Planalto condenado num processo de impeachment.
Agora, de novo o PSDB não sabe se casa ou se compra uma bicicleta. Informa Maria Lima em reportagem publicada nesta terça-feira em O Globo que o senador Tasso Jereissati (CE) pretende devolver a presidência do partido ao senador Aécio Neves (MG). Aécio foi afastado do comando do partido depois que surgiu a denúncia do irmão Friboi Joesley Batista, de que pagava propina ao senador mineiro.
A denúncia levou à época ao afastamento de Aécio do Senado e à prisão temporária de sua irmã, Andrea Neves, e de seu primo Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred. Quando Aécio se afastou, havia um entendimento de que Aécio convocaria uma reunião extraordinária da Executiva Nacional do PSDB para a escolha de um novo presidente, dado o desgaste sobre ele com a denúncia.
Mas Aécio retornou ao Senado, sua irmã e seu primo não estão mais presos, e ele é um dos articuladores da permanência do PSDB no governo Temer no que parece ser uma espécie de apoio mútuo. Como Temer julga estar mais fortalecido – apesar da popularidade baixíssima, provavelmente vai escapar de ter a abertura de um processo contra ele aprovada pela Câmara –, Aécio parece sentir-se mais fortalecido também. Tasso acha que Aécio já voltou a agir como presidente do PSDB de novo, à frente das articulações no lugar dele. E diz, segundo Maria Lima, que então é melhor que volte à presidência dos tucanos e “assuma a responsabilidade”.
Há hoje, então, no PSDB a turma de Aécio, a turma de Tasso, a turma de Dória, a turma de Alckmin… Não é nem um dilema mais… É um trilema… Ou um quatrilema…
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