Folha de S. Paulo - Ranier Bragon
Preso
há nove meses em Curitiba em decorrência das investigações da Operação
Lava Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) coleciona muitos
desafetos.
Entre eles Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara e o nome que ocupará a cadeira de Michel Temer caso o peemedebista seja afastado do cargo.
Mas
essa não foi a realidade entre os dois políticos do Rio de Janeiro nos
16 meses decorridos entre a eleição de Cunha para o comando da Câmara,
em fevereiro de 2015, e o início da gestão Temer, em maio do ano
seguinte.
Pelo contrário, os dois protagonizaram uma sólida parceria política, coroada pelo objetivo comum de combate ao governo Dilma Rousseff.
A
dobradinha pode ser simbolizada em dois episódios, ambos quando Cunha,
ainda presidindo a Câmara, já era acossado pela Lava Jato e pela ameaça
de cassação.
"Deputado
André Moura, 231. Somos 231", disse Maia no microfone do plenário da
Câmara em 11 de novembro de 2015, ocasião em que foi lido um manifesto
de desagravo ao peemedebista.
O
documento levado à sessão por André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha,
reunia o apoio de 12 partidos que somavam 230 deputados. Mas não o do
DEM, o que motivou a fala do hoje presidente da Câmara dos Deputados.
Cinco
meses depois, Maia homenagearia Cunha ao declarar, também no plenário,
seu voto a favor do impeachment de Dilma: "Senhor presidente, o senhor
entra para a história hoje".
Dezoito
dias depois o peemedebista seria afastado do mandato por decisão do
Supremo Tribunal Federal, para quem havia indícios fortes de que o
deputado usava o cargo para crimes e para obstruir investigações.
A
parceria política Cunha-Maia teve início no final de 2014, quando o
deputado do DEM trabalhou para levar sua sigla a apoiar o nome do
peemedebista à presidência da Câmara.
À época aliado incômodo de Dilma, Cunha derrotou o PT e deu início a uma gestão de confronto com o Palácio do Planalto.
Ao
assumir, retribuiu Maia o retirando do relativo ostracismo dos anos de
oposição e o indicando a tarefas como a presidência da comissão da
reforma política.
Maia
se tornou figura fácil das reuniões de Cunha. Foi o deputado do DEM,
por exemplo, quem aproximou o presidente da Câmara e o jornalista Jorge
Bastos Moreno (morto em junho), alvo de processos movidos pelo
peemedebista.
Quando
o DEM se dividiu sobre retirar o apoio a Cunha, Maia foi contra, embora
não tenha apoiado a tentativa de derrubada do então líder da bancada
demista, Mendonça Filho (PE), favorável ao rompimento.
DISTANCIAMENTO
A
relação entre Maia e Cunha começou a ruir na montagem da comissão do
impeachment de Dilma. O deputado do DEM queria ocupar um dos postos de
comando, mas Cunha o vetou.
Depois,
já no início da gestão Temer, o rompimento se deu quando Cunha escolheu
outro aliado, André Moura, para ser o novo líder do governo na Câmara.
Com
a queda de Cunha, Maia se lançou ao comando da Câmara e acabou vencendo
por duas vezes nomes apoiados pelo grupo do peemedebista –Rogério Rosso
(PSD-DF) em julho de 2016 e Jovair Arantes (PTB-GO) em fevereiro de
2017.
Já
no comando da Câmara, Maia protelou por certo tempo a votação da
cassação do mandato de Cunha, mas não atendeu a pedido do ex-aliado por
um adiamento maior, o que aumentou a distância entre ambos.
À Folha
o hoje presidente da Câmara afirmou que sua relação política com Cunha
foi a "natural entre dois deputados que exerceram a liderança de seus
partidos" e que tinham o objetivo comum de se opor ao PT e a Dilma.
"Jamais
essa relação política extrapolou o campo da ação parlamentar. Esse era o
limite para dois deputados que disputavam votos no mesmo Estado e nunca
foram aliados eleitorais."
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